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|Crítica| 'Arremessando Alto' (2022) - Dir. Jeremiah Zagar

|Crítica| 'Arremessando Alto' (2022) - Dir. Jeremiah Zagar

Crítica por Victor Russo.

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'Arremessando Alto' / Netflix
 
 
Título Original: Hustle (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Jeremiah Zagar
Elenco : Adam Sandler, Robert Duvall, Ben Foster, Queen Latifah e Juancho Hernangomez.
Duração: 117 min.
Nota: 3,5/5,0
 

“Arremessando Alto” inverte a lógica do jogo ao dar preferência para o esporte, colocando um jogador da NBA para ser explorado dramaticamente

A carreira do Adam Sandler é uma das mais curiosas de Hollywood. Não pela quantidade de grandes filmes, mas justamente pelas poucas boas atuações em meio a um mar de mediocridade e grosseria. É quase como se a cada quatro ou cinco anos fazendo as comédias estúpidas e ofensivas de sempre (muitas delas extremamente misóginas), ele decidisse relembrar as pessoas de que ele tem talento, qualidade essa que ele só não usa porque não quer, já que a sua persona da comédia exige menos dele e garante mais trabalhos lucrativos.

Vimos isso mais claramente em "Embriagado de Amor” e “Jóias Brutas”, assim como, em “A Família Meyerowitz” (que não é um grande filme, mas pelo menos o tira da zona de conforto) e o recém-lançado “Arremessando Alto”. Não que a nova estreia da Netflix seja super diferente do que a gente está acostumado a ver na plataforma ou inove com a linguagem cinematográfica, mas ela pelo menos reconhece o gênero em que está pisando e qual persona está sendo posta como figura central. 

Dessa forma, o longa não inova em estrutura ou em clichês de gênero. Continuamos tendo a montagem de treinamento (popular desde “Rocky - Um Lutador”), a jornada do azarão/desconhecido, as frases motivacionais e a câmera lenta em momentos chaves do esporte para criar um clima mais dramático. O mesmo vale para Sandler, que segue fazendo o pai de família largado, que joga basquete, tem bom coração e gosta de fazer piadinha. 

Entretanto, apesar de reconhecer em que gênero se situa e qual é o seu ator principal, “Arremessando Alto” nunca se acomoda e cria um jogo entre exibir o já conhecido e o propor algo de novo por meio da linguagem utilizada justamente para as cenas do esporte em questão. 

Geralmente, em filmes de esporte, estamos muito mais interessados no drama envolvendo os personagens e na superação do protagonista do que em como aquele esporte em questão será mostrado em tela. Isso ocorre principalmente em esportes coletivos, mais difíceis de encenar de forma crível por depender de muitos fatores e material humano para fazer um simples plano funcionar. Com isso, é muito comum vermos em filmes de basquete, por exemplo, a montagem sendo usada para criar um drama na cena e, ao mesmo tempo, para cortar entre o ator arremessando e a bola caindo na cesta, não permitindo a continuidade do movimento.

"Arremessando Alto” supera essa questão ao recorrer a jogadores de basquete de verdade. E não quaisquer jogadores, mas atletas da NBA, a maior liga do mundo. Dessa forma, a questão deixa de ser como encenar essa cena de forma contínua, já que esses atletas são mais do que capazes de arremessar bolas difíceis ou enterrar em alta velocidade, sem precisar da montagem para auxiliá-los, podendo apostar assim, em uma decupagem de poucos planos que favorece o movimento. Em certa medida, isso lembra os filmes de ação que usam atores que sabem lutar, algo mais comum no cinema asiático. O possível problema a ser resolvido, então, está em como esses atletas, sobretudo o protagonista, interpretado por Juancho Hernangomez, vão se sair atuando. Mais do que isso, nos fazendo esquecer que aquela pessoa é um jogador da NBA e nos convencer de que é um jovem querendo entrar na liga.

Nesse sentido, Hernangomez sustenta tanto o personagem quanto a sua relação com o protagonista a ponto de nos fazer ignorar completamente quem é aquela pessoa na vida real, o que qualquer ator faz ou deveria fazer. Assim, o longa vem para estabelecer um novo jogo, o de exibir os atletas e ex-atletas da NBA como referências ou personagens. Se por um lado, Dirk Nowitzki, Julius Erving, Shaquille O’Neal, Luka Doncic, Charles Barkley, Kyle Lowry, entre outros, interpretam a si mesmos, temos também Hernangomez, Boban Marjanovic (que já tinha aparecido em “John Wick; Parabellum”), Kenny Smith e Anthony Edwards vivendo pessoas diferentes, no que o filme acerta justamente por não focar nesses quatro como easter eggs, mas, sim, realmente como personagens de um mundo ficcional. 

Isso fica muito claro na decupagem das cenas. Enquanto os atletas da NBA que vivem a si mesmos aparecem rapidamente, sempre com cortes e focando apenas em uma ou duas falas, ou em uma expressão (como é o caso de Lowry, Kris Middleton e Trae Young), os atletas-personagens recebem uma atenção diferente da câmera, com mais tempo entre os cortes. É como se o filme não tivesse medo de criar essa distinção entre como vai usar seus atletas.

Algo semelhante acontece com o próprio Sandler, que, se por um lado traz características de atuações e personagens anteriores, por outro, não se debruça tanto nos maneirismos que criou durante a carreira, sobretudo em como o personagem faz piadas o tempo todo, mas nunca apontando para o humor físico ou as caretas bobocas.

No fim das contas, ao apostar em um terreno conhecido, mas ao virar a mesa trazendo os jogadores para primeiro plano, o diretor Jeremiah Zagar cria um jogo entre o fílmico e a referência extra-fílmica, entre atores e personalidades, mas nunca deixa a balança pender demais para um dos lados.

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