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|Crítica| 'Argentina, 1985' (2022) - Dir. Santiago Mitre

|Crítica| 'Argentina, 1985' (2022) - Dir. Santiago Mitre

Crítica por Victor Russo.

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'Argentina, 1985' / Amazon Prime Video

 

Título Original: Argentina, 1985 (Argentina)
Ano: 2022
Diretor: Santiago Mitre
Elenco : Ricardo Darín, Peter Lanzani, Alejandra Flechner, Paula Ransenberg e Carlos Portaluppi.
Duração: 140 min.
Nota: 3,5/5,0

 

“Argentina, 1985” entende sua importância histórica e coloca o tribunal em primeiro plano, ainda que não proponha nada de muito próprio para o gênero

A estreia do Amazon Prime Video e um dos grandes candidatos ao Oscar de Melhor Filme Internacional é a combinação perfeita para a Academia, um filme com relevância histórica e social, que diz muito sobre seu país de origem, mas pouco foge de uma forma mais hollywoodiana de se fazer cinema. Além disso, tem um dos grandes atores das últimas décadas e protagonista de três filmes indicados na categoria: Ricardo Darín.

O longa então vai abordar o julgamento civil de 1985, responsável por condenar os militares que cometeram crimes atrozes durante a ditadura que tomou o poder do país durante sete anos. Assim, o filme de Santiago Mitre já nasce relevante por sua temática, que reflete problemas enfrentados em toda a América Latina, como, por exemplo, no Brasil.

Entretanto, o grande mérito do longa está sobretudo em como transporta essa temática complicada para uma forma interessada no tribunal e em todos os meandros dessa difícil disputa judicial por justiça. Então, sim, “Argentina, 1985” vai dar uma atenção para a construção de seus personagens, suas relações familiares e esse idealismo que é a força motriz para a luta por justiça. Todavia, essas escolhas do roteiro fortalecem a narrativa, mas não são a base dela.

Isso porque Mitre vai na contramão de muitos filmes de tribunal ao inserir o público no que mais importa: o julgamento. Claro que nunca abandonando o fator humano que nos aproxima dos personagens e do caso sob uma ótica específica, como dito no parágrafo de cima. Só que o filme não se move por conta dessas relações pessoais e sim como um fluxo histórico de julgamento que carrega os personagens.

É bem verdade que o longa está longe de ser autoral ou revolucionar o gênero. Pelo contrário, Mitre se usa justamente do nosso conhecimento prévio de filmes de tribunal, feitos aos montes nos Estados Unidos, para realizar um filme “hollywoodiano à argentina”. Ou seja, ele em nenhum momento deixa de conversar com o seu país e o fazer cinematográfico argentino, como o humor rabugento típico dos personagens do Darín, assim como se debruça bastante sobre aquilo que o cinema americano faz há décadas, principalmente as obras de Aaron Sorkin no gênero.

Assim, ambientação, caracterização e trilha sonora soam meio padronizadas, operantes, mas sem tanta alma autoral. O foco se desvia então para os diálogos extensos, que não soam verborrágicos justamente pela habilidade do texto de torná-los naturais e conversarem com o cinema local. Então, se contextualizam a situação, abraçam o discurso político e trazem contornos morais aos personagens e tensão a situações quase banais, como é muito comum nos roteiros do Sorkin, tudo isso será feito com uma boa dose de palavrões, vísceras (no sentido figurado, é claro) e a impetuosidade típica dessa sociedade que parece em constante ebulção.

Isso quer dizer que “Argentina, 1985” é sim um filme que preza mais pelo seu conteúdo importante do que pela forma, moldando à narrativa a um modelo bastante estabelecido e sem propor nada de tão novo. Porém, funciona justamente por colocar o que realmente importa em primeiro plano e dar um destaque especial para momentos específicos desse julgamento, quando como o personagem do Darín lê um longo discurso que resume o sentimento do filme tanto em conteúdo quanto em forma.

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