Português (Brasil)

|Crítica| 'Alcarràs' (2022) - Dir. Carla Simón

|Crítica| 'Alcarràs' (2022) - Dir. Carla Simón

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Alcarràs' / MUBI

 

Título Original: Alcarràs (Espanha)
Ano: 2022
Diretora: Carla Simón
Elenco : Jordi Pujol Dorcet, Anna Otin, Xenia Roset, Albert Bosch e Ainet Jounou.
Duração: 120 min.
Nota: 3,0/5,0
 

A câmera de Carla Simón nos convida a presenciar o dia a dia desglamourizado de uma família de agricultores, mas tem dificuldade de nos aproximar deles por completo

"Alcarràs", novo filme de Carla Simón e vencedor do Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim, se apoia no cinema de fluxo e no slow cinema, tendências que quase sempre se misturam no cinema contemporâneo, para reproduzir alguns dias na vida de pessoas que teoricamente não seriam tão interessantes, mas ganham nosso interesse a partir do momento que somos convidados a presenciar suas vidas comuns.

Em nenhum momento o longa vai buscar grandes feitos, mudanças bruscas nos personagens ou reviravoltas da narrativa. Até porque esses elementos pouco têm a ver com o cinema de fluxo, que busca muito mais uma fluidez naquele mundo do que a solidez da mise en scène clássica. E isso fica bastante perceptível em como Simón passeia sua câmera por aquela ambientação, muitas vezes tornando os personagens algo secundário. 

A câmera surge como um olhar livre, quase sempre despreocupado, e que foge dos grandes feitos para encontrar conforto no cotidiano daquela família de agricultores. São as crianças brincando dentro de um carro velho, o filho mais velho indo para balada, a mais jovem treinando com as amigas uma dança, o pai preocupado com a colheita e o futuro. Não que não haja consequências para alguns desses atos, mas elas se tornam secundárias. O que importa são aqueles momentos livres no tempo e no espaço.

Por isso, o filme perde a sua força justamente quando tenta fechar tudo aquilo que abriu, amarrar parte da trama a fim de buscar uma moral final, problema comum em grande parte da carreira do Apichatpong Weerasethakul, um dos maiores nomes do cinema de fluxo, mas que muitas vezes se entrega a uma necessidade de fechar uma trama quase inexistente com um momento sublime (o que ele acerta em cheio no seu último filme, "Memória").

Isso porque, quando Simón parte para esse caminho mais próximo à narrativa clássica, o filme clama por uma conexão maior entre público e personagens, a fim de se importar com a causa deles. O que não funciona, já que, durante mais de 1h30 a gente não tinha sido convidado a se dar muita atenção para personagens ou temáticas socialmente mais relevantes daquele universo (que reflete os problemas da contemporaneidade), mas apenas para presenciar os momentos. Soa como o filme se traindo de alguma forma.

Compartilhe este conteúdo: