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|Crítica| 'Air: A História por Trás do Logo' (2023) - Dir. Ben Affleck

|Crítica| 'Air: A História por Trás do Logo' (2023) - Dir. Ben Affleck

Crítica por Victor Russo.

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'Air: A História por Trás do Logo' / Warner Bros. Pictures

 

Título Original: Air (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Ben Affleck
Elenco :Ben Affleck, Matt Damon, Jason Bateman, Viola Davis, Marlon Wayans, Chris Messina e Chris Tucker.
Duração: 112 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Apesar de convencional, propagandístico e restritivo, o amor do Ben Affleck pelos personagens, pela história e pelo basquete é contagiante, sobretudo em como rejeita a glamourização dos anos 80, enquanto se interessa pelos bastidores

É inevitável que “Air” chegue com um certo peso, após ser realizado pouco tempo depois da excelente série documental “Arremesso Final". É como se após duas décadas, Michael Jordan, o maior jogador de basquete da história, tivesse voltado aos holofotes, ainda que não como ele estava acostumado. É bem verdade que tanto a série quanto o longa exaltam o jogador, o que não teria como ser diferente, porém, ambas as obras parecem mais interessadas nos bastidores, e é justamente aí em que se diferenciam (além do formato, é claro). Se “Arremesso Final” tinha como foco o íntimo de Jordan em seu último ano antes da sua segunda aposentadoria e viajava por sua carreira no processo, “Air” tem no jogador um mito a ser alcançado, enquanto centra sua história na equipe da Nike (antes da marca dominar o basquete também) responsável por convencer o atleta e criar a linha Air Jordan.

Com isso, Ben Affleck recorre a uma abordagem bastante tradicional para filmes de investigação jornalística ou mesmo de bastidores do esporte. Ambientes fechados, uma luz amarelada, uma caracterização oitentista e decupagem bem simples (apesar de ter Robert Richardson como diretor de fotografia), além, é claro, de um foco quase total nos personagens e diálogos. É um daqueles longas em que o interesse do diretor pela história é tão grande a ponto dele se deixar apagar. É um filme bastante tradicional.

Entretanto, isso não quer dizer que Affleck não é responsável por diversas escolhas interessantes, capazes de transformar “Air” em uma divertida experiência, ainda que já saibamos o resultado final daquela história. Tal diversão não surge do nada, mas é como se sentíssemos uma paixão contagiante do cineasta ao retratar aquele caso. Um amor pelo basquete, pelos personagens e principalmente pelos bastidores, a história que acontece por baixo do glamour habitual dos anos 80 ou mesmo da melhor e mais poderosa liga de basquete do mundo.

Por mais que o longa fale da toda poderosa Nike, que já era líder de vendas para tênis de corrida, Affleck consegue construir naquela equipe, sobretudo no personagem de Matt Damon, uma convenção natural dos filmes de esporte: o azarão. Era uma empresa que não dominava o setor e nem era bem vista pelos jogadores de basquete. Tal estrutura até pode soar meio propagandística, porque é. Entretanto, o diretor se mostra menos interessado na corporação e muito mais preocupado com o fator humano. Os personagens aqui não precisam ser complexos, mas são humanos o suficiente para entrarmos naquela jornada junto com eles e torcermos pelo sucesso da empreitada. 

Ao mesmo tempo, o longa vai referenciar os anos 80 o tempo todo, sobretudo 1984, quando a história se passa. Mas, por mais que diálogos, a montagem de abertura ou o design de produção mostrem músicas do período, como “Born in the USA”, carros, objetos, programas de TV, marcas, acontecimentos etc, Affleck está sempre mais focado e apaixonado por esses bastidores, por aquilo que acontece naquele ambiente fechado, quase sempre escuro. Há a noção de que aquilo se transforma na vida daqueles personagens, fazendo de uma viagem para a Carolina do Norte um rápido, mas libertador momento. É aquele personagem saindo do escritório sufocante, mas sem nunca deixar de trabalhar.

Assim, Affleck desglamouriza um pouco esses anos 80, o que é sentido na própria figura do Michael Jordan. Nunca vemos seu rosto, uma noção de que o jogador é grande demais para ser mostrado frente a personagens e um objetivo tão escondidos, mesmo que tal evento tenha mudado a história do esporte. Jordan só aparece em imagens de arquivos, assim como todos os outros astros da liga. Mas isso não impede o longa de dar todo o contexto, desde os grandes nomes do momento, a situação do draft, as marcas que dominavam o mercado etc, além de adotar um tom quase profético, como quando o protagonista vê em Jordan uma figura capaz de mudar a NBA, o que realmente aconteceu, já que o atleta e toda a construção de marketing fizeram uma liga marginalizada nos esportes americanos se transformar em uma das maiores marcas do mundo. Então, parece acertada a escolha de Affleck pela simplicidade, pelo pequeno, como se ele não tentasse em nenhum momento ser tão grande quanto as figuras que rondam aquela equipe.

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