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|Crítica| 'A Filha do Rei do Pântano' (2023) - Dir. Neil Burguer

|Crítica| 'A Filha do Rei do Pântano' (2023) - Dir. Neil Burguer

Crítica por Victor Russo.

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'A Filha do Rei do Pântano' / Diamond Films

 

Título Original: The Marsh King's Daughter (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Neil Burguer
Elenco : Daisy Ridley,  Ben Mendelsohn, Garrett Hedlund, Caren Pistorius, Brooklynn Prince e Gil Birmingham.
Duração: 108 min.
Nota: 2,5/5,0

 

A imagem se torna apenas um elemento decorativo para o interesse único com a história, no sentido mais literário da palavra

Talvez o mais curioso de “A Filha do Rei do Pântano” seja a sua relação com “Um Lugar Bem Longe Daqui”, lançado no ano passado. Ambos são adaptações de livros best-sellers, mas que parecem ter ficado restritos a essa “bolha de leitores de suspense”. Ainda que de autores diferentes, ambos se voltam para uma protagonista feminina, que viveu em uma casa no pântano e agora o passado a atormenta. Mais curioso ainda é perceber como os lançamentos dessas obras foram quase idênticos, sem alarde, com pouquíssimo marketing e sem passar por nenhum festival. Fica a impressão, até por terem o termo “baseado no best-seller” como único fator de propaganda, de um direcionamento quase exclusivo para os fãs dos livros, pelo menos em um primeiro momento, já que nenhum filme se paga apenas com essa restrição de público. 

Pode ser apenas uma coincidência, até porque dois filmes são uma amostragem baixíssima para tentar traçar qualquer tipo de tendência comercial. Porém, por mais que “A Filha do Rei do Pântano” ainda tenha alguma preocupação cinematográfica, sobretudo em como usa a sugestão de uma câmera subjetiva para criar a sensação do passado observando àquela protagonista (Daisy Ridley) acuada, parecem muito mais preocupados em agradar os fãs dos livros do que em criar uma obra com uma preocupação estética. O que se constrói, por meio de elipses, flashes do passado e interiorização de informações, sentimentos e lembranças na personagem central como recurso para gerar reviravoltas posteriores, demonstra essa preocupação muito maior com a história do que com a narrativa. Ou seja, a sucessão de eventos e informações reveladas parecem quase um protocolo, apresentadas porque estão assim na obra original, sem que se use dos recursos audiovisuais para criar suspense ou envolvimento do espectador com a obra. É um olhar que trata o cinema apenas como refém para vermos o literário em tela.

Claro que, a partir do momento que a obra é adaptada para o cinema, automaticamente a linguagem audiovisual se faz presente. Os personagens e cenários deixam de ser representações da mente do leitor e ganham forma em tela. A questão é que tudo que há de mais cinematográfico aqui é refém da história. Os competentes Daisy Ridley e Ben Mendelsohn pouco conseguem ir além desses personagens já prontos, ainda que ele tenha um pouco mais de espaço ao criar essa manipulação do personagem. Mas nem nesse aspecto a direção de Neil Burger parece muito empenhada em dar uma cara muito pessoal ao filme. Era de se esperar, porém, que o cineasta de filmes de estúdio tão distintos (e quase sempre no máximo medianos) como “Sem Limites”, “O Ilusionista”, “O Intocáveis” (o remake americano) e “Divergente”, não tivesse qualquer pretensão de dar a sua cara (se é que ela existe) a essa adaptação. Ele faz exatamente o que lhe foi pedido, mais um filme que se usa da decupagem e do som sem qualquer inventividade.

Voltamos então para “Um Lugar Bem Longe Daqui”, que não só tem o material base de uma autora diferente de “A Filha do Rei do Pântano”, como também não compartilha o mesmo diretor. Entretanto, as obras não poderiam ser mais parecidas em suas elipses, closes, movimentos de câmera, fotografia amarelada e a banda sonora que varia entre o clichê do silêncio para a subjetividade acompanhado de um som agudo e a trilha sonora mais marcada para emular qual o gênero que o filme pretende trabalhar como dispositivo naquele momento. No fim, o longa se aceita nesse lugar apenas de uma adaptação sem brilho, que não tem força nem de ser ruim. Fico curioso apenas para saber se uma nova tendência anti-cinematográfica começa a surgir com essas adaptações literárias que nada mais são do que isso: literárias.

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