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|Crítica| '@Arthur.Rambo - Ódio nas Redes' (2022) - Dir. Laurent Cantet

|Crítica| '@Arthur.Rambo - Ódio nas Redes' (2022) - Dir. Laurent Cantet

Crítica por Victor Russo.

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'@Arthur.Rambo - Ódio nas Redes' / Vitrine Filmes
 
Título Original: Arthur Rambo (França)
Ano: 2022
Diretor: Laurent Cantet
Elenco : Rabah Nait Oufella, Antoine Reinartz, Sofian Khammes e Bilel Chegrani.
Duração: 87 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Sem propor nada muito interessante formalmente, “Arthur Rambo” é mais um filme a abraçar a superficialidade ao criticar a “cultura do cancelamento”

Com o desenvolvimento cada vez mais acelerado da sociedade contemporânea, essa velocidade, como era de se esperar, acaba sendo refletida nas escolhas de temas e premissas para o cinema. A pandemia ainda vivia um pico mundial quando uma série de filmes já eram realizados sobre ela, quase sempre sem boas ideias e com um aspecto meio apressado. Como se essas obras estivessem sendo feitas para surfar a onda do desastre. E esse número deve aumentar assim que a pandemia realmente acabar.

Algo semelhante acontece há um pouco mais tempo com os filmes envolvendo as redes sociais, sobretudo aqueles que abordam a cultura do cancelamento, discursos de ódio entre usuários ou pessoas que se escondem atrás de perfis falsos. Só que, apesar desses problemas afetarem nossa sociedade há quase uma década, foi só nos últimos três ou quatro anos que a enxurrada de obras com essas temáticas começou a chegar.

Mas, da mesma forma que cientistas políticos, sociólogos e psicólogos correm contra o tempo para entender esses fenômenos dentro da nossa sociedade e como cada pessoa acaba afetada por isso, o cinema, sem a mesma base de estudo, surge como importante mídia para a exploração dos temas, capaz de atingir muito mais pessoas. Não à toa, a Netflix foi um dos estúdios que mais produziu nos últimos anos filmes envolvendo os problemas das redes sociais.

A grande questão é que parece não haver tempo o suficiente para refletirmos sobre o assunto. Entendemos os problemas causados pelas redes sociais, como elas criam bolhas, liberam o ódio sem consequências e tornam as pessoas ainda mais punitivistas. Mas pouco sabemos ainda sobre como resolver essas questões. Quase sempre precisamos de um certo distanciamento histórico para realmente entendermos os novos fenômenos sociais. E se o cinema já teve sucesso anteriormente ao lidar com fenômenos catastróficos enquanto eles aconteciam, foi justamente ao saber explorar esse sentimento em tela por meio da linguagem (como aconteceu com o Neorrealismo Italiano e o Cinema Noir, nos Estados Unidos, começados ainda enquanto a Segunda Guerra Mundial estava em curso), e, não com a pretensão de abordar tal questão tão racionalmente.

Talvez seja por isso (digo “talvez” porque essa crítica também é feita no calor desse momento) que a grande maioria dos filmes que pretendem criticar as redes sociais não consigam sair de uma camada mais superficial. Foi assim com o documentário “O Dilema das Redes” e com as sátiras “Não Olhe Para Cima” e “France”, só para citar três. São obras tão preocupadas com a crítica que querem fazer, que acabam não conseguindo ir além da premissa em termos de conteúdo, enquanto tornam a linguagem cinematográfica algo secundário. “Arthur Rambo” parece mais um filme a entrar nessa onda do superficialismo da crítica às redes. E não é por falta de ideias, mas sim pela incapacidade de desenvolvê-las ao lado do seu protagonista.

Temos aqui um personagem central que teria tudo para ser complexo. Se por um lado é respeitoso e dedicado a temas sociais relevantes, sobretudo em como os imigrantes são tratados, por outro, tem um perfil fake na internet para disseminar ódio contra os gays, jornalistas e judeus. Quem seria ele, afinal, Arthur Rambo ou Karim D.? O quanto de ódio há dentro dele e, em certa medida, justifica-se? A verdade é que nunca sabemos realmente, mas não por uma ambiguidade provocativa do roteiro, pela simples indecisão mesmo. 

A verdade é que o filme tem tanto apego a sua interessante premissa, que ele faz questão de gritar ao público sobre o que quer dizer. Não são poucas as falas do protagonista para pessoas mais próximas como “Você me conhece, aquele não sou eu. Era só um perfil de humor”. Porém, o próprio filme não nos permite conhecer realmente esse personagem. Ficamos apenas com um protagonista que teve sua vida mudada do dia para noite, mas que é interpretado de maneira tão desconvidativa, que o filme parece ter dúvida se quer criticar a cultura de cancelamento ou se o objetivo é nos fazer não gostar do Karim.

No fundo, “Arthur Rambo” é mais um filme que não parece ter feito uma reflexão mínima sobre os temas que deseja abordar, exceção feita talvez ao momento em que o irmão de Karim expõe para ele o sentimento daquela comunidade e o que o perfil fake Arthur Rambo representava para aquelas pessoas mais jovens. Só que o filme termina logo em seguida, sem se preocupar mais uma vez em debater essas complexas discussões. Para piorar, Laurent Cantet parece preocupado apenas em expor o roteiro de maneira super genérica, esquecendo-se do poder sensorial do cinema. Sensações essas que faltam para o espectador adentrar a situação psicológica vivida por aquele protagonista, tendo como resultado um personagem morno que só reage de vez em quando em alguma conversa.

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