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|Crítica| '13 Sentimentos' (2024) - Dir. Daniel Ribeiro

|Crítica| '13 Sentimentos' (2024) - Dir. Daniel Ribeiro

Crítica por Victor Russo.

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'13 Sentimentos' / Vitrine Filmes

 

Título Original: 13 Sentimentos (Brasil)
Ano: 2024
Diretor: Daniel Ribeiro
Elenco: Artur Volpi, Michel Joelsas, Marcos Oli, Julianna Gerais e Sidney Santiago.
Duração: 100 min.
Nota: 3,0/5,0
 

Filme simpático de Daniel Ribeiro tem consciência dos clichês, mas não consegue reproduzir seus temas em imagens, sendo dominado por uma encenação artificial com cara de YouTube

A divisão em partes de um filme nunca é uma boa ideia por parte de uma crítica, apesar de ter se popularizado cada vez mais na era das redes sociais, por ser uma forma que facilitou a compreensão do público e a própria análise, sobretudo de produtores de conteúdo e influenciadores, não precisando de uma visão crítica e que perceba cada filme como uma série de partes indissociáveis, que só existem dentro de um sistema que conecte todas “áreas” a fim de criar uma unidade estilística. Entretanto, 13 Sentimentos desafia essa visão mais rígida que eu tenho sobre a crítica de cinema, a partir do momento que essas partes do todo até criam uma estética, mas são também bem marcadas, quase como se desgrudando uma da outra, por um lado se sustentando pela consciência e pelo texto, por outro, denunciando a fragilidade dessa encenação.

Assim, fica claro como Daniel Ribeiro tem uma mão boa para criar filmes simpáticos, a partir de personagens gostáveis e situações que geram identificação com o espectador. A dúvida sobre o que fazer depois de um relacionamento de uma década, a dificuldade de fazer cinema no Brasil, os amigos como esse apoio emocional, e também como a possibilidade de se divertir e esquecer do mundo real por alguns instantes na mesa de um bar ou de um café, a insegurança financeira do trabalho freelancer que não permite recusar nenhuma oportunidade, entre muitas outras situações revelam esse carinho do cineasta para com seus personagens e histórias, com destaque para João (Arthur Volpi), obviamente uma versão ficcional e cinematográfica de vivências do próprio Ribeiro, que não tenta esconder esse ar pessoal, justamente o que torna o longa mais doce e engajante.

Então, se por um lado parece a comédia romântica de sempre, Daniel consegue criar uma dinâmica interessante ao centrá-la em relacionamentos homossexuais, utilizando-se de termos, ações e todo um imaginário particular que o diferencia do padrão do gênero, sobretudo pela consciência empregada. É um filme que está constantemente flertando com os clichês e até os abraçando, como a produtora que “não quer fazer mais filmes de arte e vai apostar nos populares”, o filme que se constroi a partir do roteiro que o protagonista está escrevendo e por aí vai. Mas o cineasta tem uma astúcia para driblar esses clichês ou torná-los apenas pontos de partida, como a produtora deixa de ser o foco rapidamente ou o roteiro sendo escrito que deixa de ditar as ações de João, mas, pelo contrário, vai sendo reescrito a partir das atitudes dele, sem nunca encontrar um destino no papel, apenas um final feliz na tela. Dessa forma, se muito do texto parece ensaiado, as conversas que viram rapidamente análises sociológicas e psicológicas cheias de frases de efeito e as piadas marcadas, o elenco lida bem o suficiente com essas obviedades não a fim de subvertê-las, mas de torná-las charmosas e divertidas, quase como se o filme tivesse rindo de si, como se Daniel escancarasse os clichês ao abrir sua intimidade.

Só que toda essa simpatia que é fácil ter pelo filme vem de uma simplicidade meio anticinematográfica. 13 Sentimentos parece mais uma série de sketches para o YouTube do que realmente um filme em termos de imagem. Todas as escolhas gritam artificialidade, como se a imagem traísse o texto. Enquanto este busca os sentimentos verdadeiros pelo clichê, essa revela que é tudo uma mentirinha. Talvez a única boa ideia nesse sentido seja a reprodução dos áudios no formato audiovisual, com esses homens sem camisa falando para a câmera. No restante, há uma desumanização desses personagens, uma luz com poucas sombras e cenários perfeitinhos que mais parecem uma sitcom, uma decupagem que faz dos planos não só genéricos, mas protocolares, sobretudo em como a montagem vai acelerar muitos desses processos. É um filme que parece existir só no papel, no roteiro, mas que não é bem reproduzido em imagem. As conversas são sempre curtas, a atenção que o filme dá para a pornografia não vai além de duas ou três imagens de cada casal, todas calculadas, como se o filme precisasse preencher aquele chekclist da história, não importasse tanto como mostrasse. Dessa forma, a artificialidade é tanta por mais de 90 minutos, que, quando Daniel finalmente busca esse sentimento real, o momento em que o personagem voltou a viver, mostrando durante uma longa cena e planos fortemente sugeridos do sexo entre ele e Martin, isso não só não se conversa com o restante (o que até faria algum sentido, já que é uma ruptura do João de antes para aquele João), como, ainda assim, mesmo com aqueles corpos se penetrando e se desejando diante de nós, a escolha dos planos não poderia ser mais genérica, tudo filmado de longe, sem uma aproximação real dos corpos como a cena sugere. Até o choque não choca, mas soa calculado como todo o restante.

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