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|Crírica| 'Não Abra!' (2023) - Dir. Bishal Dutta

|Crírica| 'Não Abra!' (2023) - Dir. Bishal Dutta

Crítica por Victor Russo.

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'Não Abra!' / Imagem Filmes

 

Título Original: It Lives Inside (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Bishal Dutta
Elenco : Megan Suri, Neeru Bajwa, Mohana Krishnan, Betty Gabriel, Vik Sahay e Gage Marsh.
Duração: 99 min.
Nota: 1,5/5,0

 

Bishal Dutta pouco propõe ao seu terror de sustos para além de uma falsa representatividade cultural

Ao mesmo tempo que defendo um terror mais frontal, com aqueles elementos característicos do gênero (susto, gore, etc), frente a um domínio recente do horror psicológico e supostamente superior pelo tema ou pelo trauma, é também cansativo perceber que esses filmes mais diretos foram empossados por grandes estúdios e se tornaram parte dessa produção industrial sem qualquer característica própria. Não é defender a originalidade em si, já que essa é quase impossível, e nem dizer que são filmes clichês, como se essa palavra sempre usada pejorativamente fosse o suficiente para diminuir essas obras. Até porque, são alguns os casos de obras recentes do gênero que criam com personalidade a partir de clichês e características amplamente presentes na história do horror, sendo “Maligno” ou, um tanto antes dele, “Arraste-me Para o Inferno” dois ótimos exemplos disso. A questão é que para cada filme que propõe um jogo mais interessante com essa catarse do horror, são 30 que nada fazem além de replicar planos, sons e histórias. Muitos dirão que isso é resultado de um público fiel que gera bilheteria a um gênero barato de se fazer, mas isso é olhar o todo de forma limitada, visto que diretores como James Wan, Jordan Peele e Mike Flanagan trabalham sob essa mesma lógica com muito mais ideia. O que há, na verdade, é uma maioria que aceita trabalhar sob encomenda e nada tem para se destacar em meio às proposições dos estúdios. É o caso de Bishal Dutta em “Não Abra!”, apesar da suposta importância temática do longa.

Então, se o longa vende o seu diferencial por ser um olhar para a cultura indiana que emigrou para os Estados Unidos (inclusive Dutta é um caso real disso), na prática, tudo que envolve essa cultura é apenas uma desculpa para soar “tematicamente relevante”, quando, na verdade, o filme em nada difere dos outros tantos feitos todos os meses pelos estúdios de Hollywood. Repare como até a entidade é escondida e mostrada só em um momento específico, exatamente da mesma forma que o recente e um pouco melhor “The Boogeyman”. Porém, não dá para negar que “Não Abra!” é um reflexo do nosso tempo, as redes sociais que recusam o estudo como algo arrogante, mas defendem uma liberdade irrestrita de qualquer um comentar e discutir sobre o que quiser. No cinema, isso aparece nessa chamada “nova cinefilia”, que recusa a importância estética da sétima arte, enquanto compra com facilidade qualquer discurso pronto socialmente aceito e visto como relevante. O problema é que esse conteúdo só ganha peso a partir de seu uso formal, rejeitar isso é equiparar o cinema a um tweet ou post no Instagram.

Com isso, essa ânsia por dizer diretamente sobre o que são e reforçar a importância temática faz com que boa parte dessas obras traiam esse conteúdo ao ignorar o discurso audiovisual. No caso de “Não Abra!”, não só essa cultura indiana é apenas uma apropriação cultural que serve como muleta (pode ver que rapidamente os personagens passam a falar inglês e agir como americanos de filmes do gênero) para a história, como, no fundo, há uma rejeição à um cinema indiano na estética. Cada plano, silêncio, susto é feito aos moldes do cinema estadunidense, com direito àquela previsibilidade característica do que virá no segundo a seguir, assim como ao final daquela história. Escalar Dutta parece mais então aquela autodefesa, do tipo “o filme é culturalmente indiano porque o diretor é indiano”, do que capaz de apresentar algum resultado cultural realmente marcante em tela. É apenas Hollywood mais uma vez explorando outras culturas a fim de encher mais ainda os seus bolsos de dinheiro, o fato disso ter sido recorrente com China e Índia, as duas maiores populações do mundo e com cinemas regionalmente super estabelecidos definitivamente não é por acaso.

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