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|Crítica| 'Jurassic World: Recomeço' (2025) - Dir. Gareth Edwards

|Crítica| 'Jurassic World: Recomeço' (2025) - Dir. Gareth Edwards

Crítica por Victor Russo.

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'Jurassic World: Recomeço' / Universal Pictures

 

Título Original: Jurassic World Rebirth (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Gareth Edwards
Elenco: Scarlett Johansson, Jonathan Bailey, Mahershala Ali, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo e Luna Blaise.
Duração: 134 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Sem propor um norte para a franquia e um tanto desesperado nas referências ao primeiro filme da saga, Gareth Edwards ao menos consegue ser mais eficiente do que os demais Jurassic World ao se fechar em si mesmo sem muitas pretensões

O nome Jurassic World: Recomeço, ou no original Jurassic World: Rebirth (algo que seria traduzido como “renascimento”), implica uma suposta pretensão para com a franquia que definitivamente não corresponde às expectativas do filme e da sua produção. O orçamento de U$180 milhões pode não ser inexpressivo, mas não corresponde ao valor inflacionado dos maiores blockbusters contemporâneos, ainda mais em se tratando de um filme hiperdependente dos sempre caros efeitos computadorizados. Fica ainda mais evidente esse gasto menor com a produção se comparado com os demais Jurassic World, ficando na casa de pelo menos U$100 milhões a menos do que o segundo e o terceiro, e quase empatado com o primeiro, de 10 anos atrás, quando esses filmes de altíssimo orçamento custavam quase metade do preço de hoje.

Isso tudo não só combina com como o longa se apresenta em tela, mas também com o seu surgimento dentro da franquia. Jurassic World: Domínio foi lançado em 2022 com o discurso de que seria o fechamento, o que muitos interpretaram, claro, como uma pausa para um retorno anos depois, já que é um produto muito lucrativo para nunca mais ser explorado. O que poucos esperavam era o lançamento apenas três anos depois (distância menor do que os quatro anosentre o segundo e o terceiro Jurassic World, em parte por conta da pandemia) de um filme com pouca divulgação, de feitura mais rápida e barata e se anunciando como um recomeço dessa série de filmes com mais de três décadas de existência. Uma nova base, agora com os dinossauros sendo incapazes de viver no nosso mundo e sobreviver às doenças, pragas e afins, e basicamente os isolando em uma região próxima ou parte do Equador, e um elenco completamente novo e de peso, liderado por Scarlett Johansson e Mahershala Ali, e contando ainda com o em alta Jonathan Bailey, e os eficientes Rupert Friend e Manuel Garcia-Rulfo, sugeria um novo direcionamento para a franquia. Pode ser que aconteça, mas passa longe de ser a proposta mais evidente do longa.

A escolha de Gareth Edwards, um diretor conhecido por dominar os efeitos visuais, nem sempre com bons filmes como Star Wars: Rogue One, que impulsionou sua carreira, mas geralmente com obras visualmente bem acabadas, como Resistência e Godzilla, além de ter uma série de referências a monstros gigantes e à cultura pop de forma geral, é bastante acertada visando se resolver como esse filme “menor”, mais fechado em si e com orçamento mais enxuto. Se a técnica utilizada atualmente pelos estúdios para filmar em fundo verde (e que gera resultados inferiores a 10 ou 20 anos atrás) dificulta muitas vezes a profundidade e a visibilidade dos atores frente ao espaço e às criaturas digitais em cenas diurnas/claras, o diretor ao menos as concebe a partir de uma perspectiva espacial interessante de presa e predador, muito semelhante ao que Steven Spielberg já pensava nos Jurassic Park. A todo instante veremos então personagens humanos em primeiro plano, enquanto dinossauros surgem ao fundo e se aproximam sem que essas pessoas percebam. O mais básico do suspense hitchcockiano trabalhado com eficiência, assim como um domínio da decupagem em sequências que os humanos têm consciência da ameaça, seja no prolongamento do tempo pela montagem, como quando se busca um bote frente a um tiranossauro rex adormecido, ou mesmo quando uma velocidade de perseguição é imposta, como na continuação dessa sequência. Só a ideia de filmar cenas diurnas, de forma clara, nos dias de hoje, já é um mérito de Edwards, ainda que as noturnas funcionem um tanto melhor visualmente.

Em meio a essa premissa e concepção visual, restam dois grupos de personagens e uma série de referências. Enquanto a família, que vai parar ali ocasionalmente, é dotada de personagens muito mais interessantes, um senso de sobrevivência conjunta e humanidade, crescendo ao longo da trama, o grupo principal é um tanto mais representativo do filme, mirando no mais básico, querendo ser eficiente, mas não mais que isso. A mercenária com ética (Johansson), o mercenário preocupado com a equipe e os demais (Ali), o cientista anti-capitalista (Bailey), o vilão magnata caricato (Friend), são personagens que pouco vão além do estereótipo, não se desenvolvem e dependem apenas do carisma dos atores. Tudo tem essa noção do pequeno, do pouco ousado, do fechado, do garantido acima de tudo, algo muito presente também no roteiro do experiente e irregular David Koepp, na sua terceira incursão na franquia (os três melhores filmes, inclusive, o que não quer dizer muita coisa) e primeira em um Jurassic World. É um trabalho muito seguro, e apenas isso, na relação causa e consequência (como o vilão achando uma arma sozinho e escondendo para depois, o heroísmo do genro da família surgindo do nada para dar uma virada no personagem e na relação dele com o sogro ou o personagem de Friend prendendo a maleta ao seu braço, tornando previsível o que acontecerá com ele e o seu braço).

Assim, esse filme controlado e mais fechado se torna um refresco, visto os três filmes anteriores, mas também esquecível e pouco dá de um norte para o que virá depois na franquia (essa segunda parte é bem menos um problema). O que sobra então são as referências apenas ao que veio antes, representando as partes mais indigestas do longa, quando Edwards prova que não é Spielberg, seja ao tentar reproduzir um “Spielberg Face” numa bestificação mal encenada com aquelas criaturas, seja ao apelar para o sinalizador em uma cena de meio segundo, seja ao tentar reproduzir a tensão da cena da cozinha, agora em um supermercado (a que melhor funciona das três).

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