Português (Brasil)

|Crítica| 'F1 - O Filme' (2025) - Dir. Joseph Kosinski

|Crítica| 'F1 - O Filme' (2025) - Dir. Joseph Kosinski

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'F1 - O Filme' / Warner Bros.

 

Título Original: F1 (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Joseph Kosinski
Elenco: Brad Pitt, Damson Idris, Javier Bardem, Kerry Condon, Kim Bodnia e Tobias Menzies.
Duração: 156 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Joseph Kosinski tenta replicar Top Gun: Maverick e se dedica à emoção da corrida, em uma busca por adrenalina constante que ultrapasse com velocidade as fragilidades da trama e dos personagens

Se Top Gun: Maverick vinha como um retorno que já tinha uma base e os seus símbolos, mas não tentava simplesmente copiá-los, mas adaptá-los para um novo discurso, uma certa autoconsciência do tempo que já passou e da persona que aqueles atores adquiriram, assim como uma brincadeira entre o anterior e a necessidade de não rejeitar o tradicional por completo, por mais tolo que isso possa ser muitas vezes, Joseph Kosinski (que o filme de 2022 é o seu grande marco da carreira) tem em F1 - O Filme um longa que surge sem uma base, não é inspirado em nenhum outro filme, nem em uma história real (como o fraco Oscar Bait Ford v Ferrari e o excelente e pouco reconhecido Ferrari) e menos ainda em um produto (poderia e inicialmente até parece que vai cair nessa tendência recente do cinema servindo como divulgação e rebranding ou exaltação de marcas, como Barbie, Air e tantos outros). 

Porém, Kosinski não se entrega também a uma originalidade, ou, pelo menos, não total. Por mais diferente que as histórias e premissas possam parecer, o diretor percebe em seu Top Gun: Maverick um feito para esse cinemão de ação grande e bem acabado, que coloca a adrenalina à frente da história e dos personagens. Não que esses e todos os seus simbolismos sejam rejeitados, mas tal qual Mad Max: Estrada da Fúria e as séries de filmes John Wick e Missão Impossível (após Christopher McQuarrie assumir a direção), o diferencial dessas obras, que passam a virar tendência no gênero em Hollywood e uma mudança em relação à dominância do cinema de ação no país nos primeiros 15 anos do século XXI, está em um prazer profundo por filmar ação com cuidado, não exatamente com cálculo, mas com a percepção do fazer sentir, de colocar o público para suar e se enlouquecer pelos grandes feitos em tela.

F1 - O Filme segue então essa cartilha de estrutura, dobrando a aposta inclusive. Se não tem a possibilidade de filmar os atores dentro dos carros em alta velocidade sempre, como acontecia com os caças em Top Gun: Maverick, a percepção de que a ação aqui está nessa imersão dentro do cockpit representa também uma figura mais presente da montagem e dos muitos estímulos. Não só vemos o piloto dentro do carro, mas a máquina vista por fora, os gráficos de posição da corrida, o narrador contando cada detalhe e a equipe falando com essa dupla que acompanhamos. O ritmo é assim estabelecido não mais apenas pela velocidade, e, sim, por um mix de informações sobrepostas que estimulam esse sentimento de adrenalina, reforçados pela trilha crescente (e um tanto genérica dentro da filmografia do compositor) de Hans Zimmer. É essa aposta na imersão total, na quase recusa a uma história para além daquela temporada de Fórmula 1, às vezes parecendo uma espécie de videoclipe que pula de uma corrida na outra, e na estratégia e treinamento para a seguinte, que faz o longa de Kosinski ganhar em empolgação que o gênero tanto pede, ao mesmo tempo em que nos faz esquecer do entorno um tanto mais frágil do que o seu longa anterior.

Isso porque, se Top Gun: Maverick era bastante simples em sua premissa, assim como ameaça, viradas e personagens, havia todo esse jogo autoconsciente de retorno ao passado para modificá-lo ou reformá-lo em uma nova realidade. Sem essa base, F1 - O Filme aposta suas fichas em peças mais sem graça e, às vezes, até bastante questionáveis (como o piloto americano galã, de um país sem tradição nessa competição, vindo ensinar o jovem negro rebelde britânico, que sem esses ensinamentos de um zé ninguém não conseguiria crescer. A típica dominância e demonstração de poder que os americanos tanto amam). Brad Pitt não tem a aura de Tom Cruise, fica em um lugar mais seguro desse americano tradicional, mulherengo e de talento esquecido a ser apresentado para o mundo. Se o seu prazer pela corrida até tem uma graça, o mesmo não pode ser dito do seu background genérico de antiherói e menos ainda do seu romance com Kate (Kerry Condon), personagem que não passa de um aceno do filme para se parecer mais progressista do que realmente é. Assim, se os personagens não poderiam ser mais desinteressantes, destaque especial para Cashman (Samson Kayo), assim como esse conflito bem batido entre o velho, o novo e as redes sociais como mal desse tempo, o talento de Kosinski por sorte fala mais alto sempre que os carros são ligados e o motorzão domina a sala de cinema. Fica fácil se importar com quem não ligamos quando o nosso coração tá a mil em cada curva e acelerada.

Compartilhe este conteúdo: