|Crítica| 'Extermínio: A Evolução' (2025) - Dir. Danny Boyle
Crítica por Victor Russo.
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'Extermínio: A Evolução' / Sony Pictures
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Retorno da franquia tem Danny Boyle e Alex Garland afinando a agressividade do primeiro longa, em filme direto, com expansão tímida e que se permite parar para refletir
Quase 20 anos após Extermínio 2, a franquia agora retorna com Extermínio: A Evolução não para ser chamada de trilogia, mas para ter uma continuidade que utiliza o primeiro longa apenas como premissa e regras de universo a serem expandidas. O retorno de Danny Boyle na direção e Alex Garland no roteiro traz consigo a rejeição (não formal) ao segundo filme, fazendo desse uma consequência direta da obra de 2002, passando-se 28 anos depois daquele, ou seja, em 2030. Entretanto, ao contrário da maioria das obras de zumbis e infectados, que pensam todo um mundo a partir da tecnologia do período que o surto iniciou, Garland e Boyle voltam a isolar a Grã-Bretanha do resto do mundo (uma crítica ao Brexit?), fazendo a ilha ser o único lugar incapaz de controlar a doença e agora em estágio (possivelmente eterno) de quarentena, sendo fiscalizada por patrulhas de outros países europeus. Para além desse sentimento crescente após o fracasso colossal do Brexit e o afastamento do Reino Unido para com a União Europeia (agora não só por questões geográficas), a dupla volta não com o sentimento típico dos revivals de franquias que virou moda e fonte de renda dos grandes estúdios, mas para afinar aquilo que já haviam feito e foi um marco para o cinema dos mortos-vivos, criando uma onda de obras com infectados corredores que permanece dominante até hoje frente aos zumbis clássicos de George A. Romero e cia.
A abertura que acompanha crianças vendo Teletubbies, antes de começar um massacre de infectados no local, deixando como sobrevivente apenas Jimmy, para depois ser abandonado pelo pai, padre e fanático por uma visão distorcida de limpeza e paraíso, já revelam toda a perda de inocência que será tema central para o longa, posteriormente sob o protagonismo de Spike (Alfie Williams), que também terá problemas com um pai rígido (Aaron Taylor-Johnson), que despreza a esposa (Jodie Comer) doente e a trai, assim como a aldeia em que vivem é dominada por dogmas religiosos bastante rígidos. Não é à toa inclusive que os membros da aldeia se assombram e não se permitem conectar com o médico Kelson (Ralph Fiennes), único representante da ciência no espaço que nos é apresentado, visto como louco, até o conhecermos e vermos ali um cara astuto, íntegro e bastante carinhoso, tanto com os vivos, quanto com os mortos, trazendo uma nova perspectiva para a franquia, assim como suas armas para retardar a ameaça.
É curioso perceber que inicialmente Jamie (Aaron-Johnson) parece ser o protagonista, é quem conhece e domina o confronto contra os infectados, enquanto Spike é inexperiente e um peso para a dupla. É também o pai que força o filho a esse amadurecimento precoce aos 12 anos de idade. O menino precisa se levantar contra os abusos do pai, ainda que às escondidas, para assumir o protagonismo da narrativa, enquanto a atuação de Williams amadurece junto com as ações do personagem. Tudo ele faz para salvar a mãe, com quem tem uma real conexão. É essa jornada que finalmente permite ao filme adentrar um novo espaço e transformar todos os elementos de expansão da mitologia daquele universo em uma certa urgência típica das obras escritas por Garland e dominante nos dois primeiros filmes, agora não mais com o pai para ajudar, tornando Spike esse garoto obrigado a conhecer o mundo e crescer sozinho praticamente.
A apresentação do rastejante e, sobretudo, do Berserker, ou Alfa, apresenta uma expansão da mitologia, essa evolução que o título sugere, não só em conceito e possibilidade, mas principalmente em ameaça. É a partir dele que o longa sustenta o seu ritmo, muito mais calculista e mais dominador do que sanguinário, esse infectado um tanto consciente, cheio de esteróides e completamente pelado (como a maior parte dos infectados desse longa) dá permissão aos personagens e ao filme de ter alguns respiros, interações mais profundas entre os personagens a fim de conhecê-los, o que não era muito possível no primeiro longa. Só que, ao mesmo tempo em que a obra cresce em temas e desenvolvimento de personagens (ainda que dentro de um espaço restrito), quando essa máquina de matar decide atacar, a ameaça é incontrolável, quase impossível de enfrentar ou mesmo de correr. Até a apresentação do Dr. Kelson e sua forma de dopar a besta, o Berserker é o controle narrativo, entre a urgência e a cadência, sem contar, claro, na violência mais extrema que a franquia já viu. Vale também a menção de esperança, bastante comum nas obras escritas por Garland, apresentadas a partir de um novo conhecimento a respeito dos bebês de infectados, algo que talvez nem sequer seja explorado no próximo filme.
Entretanto, essa dicotomia constante entre tensão e reflexão só funciona porque Garland e Boyle não estão apenas sintonizados, mas principalmente afinados e maduros. Se o primeiro longa dispunha de uma agressividade extrema e constante, com a trilha sonora punk rock explodindo, enquanto as imagens em resolução mais baixa eram intercaladas de forma mais chocante do que coerente, com a montagem típica de Boyle causando esse fervor de urgência quase ininterrupto, tornando muitas vezes incapaz de se compreender as sequências de ação, o terceiro filme não abandona essa marca da franquia, mas a utiliza sem essa necessidade pela transgressão (que até funcionava bem naquele período do cinema e do digital, mas não pertence ao hoje). A alternância entre closes em grande angular de personagens correndo, planos mais abertos que situam o espaço e localizam os personagens e os cortes chocantes situam melhor aqueles pessoas nessa posição de constante ameaça, mas também as suas ações para se salvar. É por meio dessa combinação de uma agressividade mais apurada e a calma para respirar os horrores e as possíveis conexões passageiras nesse mundo que força um amadurecimento precoce, que Extermínio: A Evolução consegue funcionar como esse objeto da pequena expansão em um microcosmo de interesse, perigo e satisfação, dando a Spike esse lugar de um personagem a ser observado por mais tempo.