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|Crítica| 'Teleférico do Amor' (2025) - Dir. Veit Helmer

|Crítica| 'Teleférico do Amor' (2025) - Dir. Veit Helmer

Crítica por Raissa Ferreira.

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'Teleférico do Amor' / Pandora Filmes

 

Título Original: Gondola (Alemanha)
Ano: 2025
Diretor: Veit Helmer
Elenco: Mathilde Irrmann, Nini Soselia, Zuka Papuashvili, Naira Chichinadze e Vachagan Papovian.
Duração: 82 min.
Nota: 2,5/5,0

 

Em filme mudo sobre romance queer distante, Veit Helmer trabalha o diálogo por meio de gestos e ações, mas alonga demais sua simples narrativa

Nas montanhas da Geórgia, um teleférico liga uma aldeia a uma pequena cidade no vale. O tempo parece irrelevante neste local e de cada lado há uma gôndola, com uma pessoa responsável pelo trajeto, subindo e descendo ao longo do dia. Quando um dos trabalhadores morre, Iva (Mathilde Irrmann), aparentemente sua filha, chega para tentar preencher a vaga. O chefe (Zuka Papuashvili), usa como único critério de seleção entre os quatro candidatos o tamanho do uniforme que possui disponível. Então, Iva é contratada e passa a ser treinada por Nino (Nini Soselia), a condutora do outro lado do teleférico. O longa, extremamente simples, escrito e dirigido por Veit Helmer, vem com essa premissa doce, em que as duas mulheres passam a interagir com certa distância, usando outros artifícios para se comunicarem, já que há um espaço no ar que as separa e que Teleférico do Amor é um filme mudo, sem diálogos.

Bastante atrelado ao primeiro cinema, o longa se estabelece dentro de uma comédia de gestos e ações dos personagens. Como não existem falas acima da trilha sonora instrumental, as conversas são construídas por brincadeiras, desde detalhes sutis e delicados como um jogo de xadrez entre Nino e Iva, em que cada peça é movida assim que a gôndola de cada uma chega ao topo, até exageros cômicos que tentam suprir a falta de diálogo, como grandes fantasias no teleférico, cartazes desenhados ou objetos arremessados. Planos detalhes são usados para costurar a narrativa e é quase como se a qualquer momento uma tela com intertítulos fosse aparecer. Não fossem as cores e a ausência total do texto em tela (talvez a duração também), certamente soaria como uma exata reprodução de algo feito antes de 1920.

Como Helmer não traz muita coisa de nova a essa ideia antiga, além de um relacionamento queer, entre duas mulheres, e as cores, seus quase 90 minutos são como esticar demais um tecido sem muita flexibilidade. Os esquemas engraçadinhos das personagens começam a ser usados para preencher a narrativa, passam de ser doces artifícios que constroem linguagem e amor entre as duas, para algo repetitivo e sem graça. Enquanto Nino e Iva se aproximam, o chefe do teleférico começa a sentir ciúmes da relação, a trama é basicamente sobre isso, com uma ou outra pincelada sobre os outros moradores do pequeno lugar, então não há muito além dessa simplicidade para se sustentar.

Mesmo que o amor entre duas mulheres seja explorado de forma sensível, aproveitando a falta de diálogos para dizer tudo a partir de seus gestos, expressões e das formas que elas encontram para se comunicar por meio de objetos e atividades, sempre usando o teleférico como grande condutor da relação, falta coragem a Teleférico do Amor para dar um passo a mais do que apenas sugerir um romance e de fato o concretizar. Isso caminha tanto na linha desse cinema do passado, quanto na infantilidade que a obra assume por seu senso de humor ingênuo. Não há espaço para interações muito adultas, o que é firmado quando duas crianças da cidade, uma menina e um menino, passam a ser o centro da interação pelas gôndolas que se cruzam a cada período de tempo. 

Vê-se que o começo do filme tem muito mais fôlego justamente por como o cineasta alemão optou por contar sua história e pela trama simples que propõe, tudo é melhor aproveitado enquanto a doçura ainda está fresca e não foi saturada pelo humor que se estica demais e torna-se tolo. É algo que poderia ser muito melhor aproveitado em uma duração mais enxuta, sem saturar o que é trabalhado, pois nada na narrativa é evoluído ao longo da duração, ela simplesmente é esticada redundantemente para preencher o meio e chegar a um fim.

Se há o que se apaixonar em Teleférico do Amor, é justamente como os olhares entre Nino e Iva são trocados, como as duas aprendem a se amar à distância e conversar sem palavras. O resto é um pouco de bobagem misturada a muita ingenuidade, como uma história romântica que pode descer fácil para qualquer audiência. Tanto quanto a ausência de diálogos torna sua linguagem universal, o longa também evita cruzar qualquer linha que o torne mais adulto ou complexo, o maior desafio da pessoa espectadora é se agarrar a tudo de doce e belo que a proposta inicial apresenta e não se entediar com o alongamento desnecessário que nada acrescenta.

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