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|Crítica| 'Premonição 6: Laços de Sangue' (2025) - Dir. Zach Lipovsky e Adam B. Stein

|Crítica| 'Premonição 6: Laços de Sangue' (2025) - Dir. Zach Lipovsky e Adam B. Stein

Crítica por Victor Russo.

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'Premonição 6: Laços de Sangue' / Warner Bros.

 

Título Original: Final Destination: Bloodlines (EUA)
Ano: 2025
Diretores: Zach Lipovsky e Adam B. Stein
Elenco: Kaitlyn Santa Juana, Teo Briones, Rya Kihlstedt, Richard Harmon, Tony Todd, Anna Lore e Owen Patrick Joyner.
Duração: 110 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Franquia retorna com um ar de nostalgia dos anos 2000, mas sem se prender completamente ao passado, buscando um refresco na ampliação da mitologia

Premonição é um das franquias mais emblemáticas desse terror adolescente, que ganha força a partir de Pânico, que autorreferenciava e tirava sarro dos filmes de slasher, nessa mistura de terror e comédia autoconsciente, e, a partir de então, são muitas as tentativas de construir séries de filmes que surfavam a mesma onda, já no final dos anos 90. O primeiro Premonição chega um pouco depois, mas nem tanto, compensando uma certa falta de apuro cinematográfico com uma nova boa ideia, a morte enquanto uma instituição metafísica que mata os que sobreviveram a um desastre por conta de uma visão de um daqueles personagens, fazendo esse ser onipresente e onipotente retornar para buscar cada um dos “não mortos” quando na verdade deveriam ter morrido. O prazer do espectador pela morte enquanto objeto cinematográfico é o mesmo que o slasher sempre teve, principalmente a ideia do matar de forma gráfica e inventiva. Entretanto, a franquia adiciona uma certa brincadeira a partir do momento que essas mortes se assumem como bizarras por conta dessa dominância do acaso que o vilão sem rosto tem. Como se não houvesse só um prazer pelo matar, mas esse viesse acompanhado do mais absurdo que as coincidências do inesperado fossem capaz de atingir. 

Ao mesmo tempo que o nível foi caindo com os filmes seguintes (mas não muito, já que a franquia nunca teve uma preocupação estética tão grande), a busca era sempre pela catástrofe inicial e pelas mortes mais inventivas, seguindo sempre uma mesma lógica de decupagem, de mostrar elementos aleatórios em planos detalhe, como se brincasse com o público mostrando o que mataria o personagem da vez e estimulasse esses espectadores a tentar adivinhar, funcionando justamente nessa comédia com o absurdo do acontecimento. Até que o quarto filme (de 2009, mesmo ano de Avatar) vem em momento de 3D dominando as telonas e tanto este filme como o seguinte, que sugeriam fechamentos para a franquia, passaram a jogar todo tipo de objeto na cara do espectador de óculos, como se esse virasse o maior interesse das mortes e dos longas. Por se tratar de uma série de filmes que não só se saturou, como principalmente carregava em si uma característica mais ingênua e menos obcecada pela lógica, muito característica dos anos 2000 (ou melhor, do cinema até esse momento pré-redes sociais), parecia que não haveria mais espaço para Premonição depois, ainda que suas mortes ficassem no imaginário popular e seguissem sendo replicadas nas redes (mesmo que os primeiros três filmes fossem um tanto anteriores a Facebook, Twitter, Instagram e afins).

Só que Hollywood jamais abrirá mão de replicar aquilo que dá ou já deu dinheiro, então seria questão de tempo, em período que a esmagadora maioria das produções são franquias (ou são feitas para virar mais filmes em um mesmo universo), para Premonição retornar às telonas. A surpresa, porém, é que nesse caso o resultado não poderia ser mais surpreendentemente bom, enquanto carrega uma carga inesperada, mas presente no longa. Trata-se de uma tentativa de fechar o único personagem presente em todos os filmes, o legista interpretado por Tony Todd. Eis que na última aparição dele, com um discurso sobre aceitar o fim, o que faz todo o sentido para o novo arco criado exclusivamente para o seu personagem no longa, casou de ser também o último trabalho do ator, que faleceu no final do ano passado, dando um peso ainda mais sentido para a cena, em que ele aparece magro e com pesar, ainda que mantendo um brilho de tudo aquilo que viveu.

Entretanto, não é só de Todd que Premonição 6: Laços de Sangue vive. A nova dupla de diretores para a franquia, Adam B. Stein e Zach Lipovsky, compreende o prazer pelas mortes inventivas que move essa série de filmes, mas o faz com muito mais habilidade do que quase todos os seus precursores, não só no uso dos efeitos visuais, como, principalmente, ao compreender como uma trama pode tornar cada um desses eventos mais significativos e também entendendo o peso do que veio anteriormente. Assim, eles driblam o caso clássico em franquias de terror do filme comemorativo apenas como nostalgia (já que em 2025 completa 25 anos do primeiro longa) e dão um refresco ao criar novas possibilidades, com uma nova história, trazendo novos personagens e aumentando a mitologia, ainda que carregado de uma certa nostalgia dos anos 2000 e da franquia em si, implicitamente, tanto na estrutura do longa como na utilização de atores mais desconhecidos (só que bastante eficientes aqui, diferente de outros casos, como o quarto e o quinto longa).

É como se o filme entendesse o que pode criar de novo, como a premissa da morte vindo caçar os descendentes de um desastre evitado, o que não tem muito como expandir (pelo menos por hora), referente à confrontação com a morte e as possibilidades de sobrevivência, e, sobretudo, o que pode ser aperfeiçoado, envolvendo uma decupagem muito mais astuta ao apresentar os elementos presentes em cada morte, assim como uma graça muito específica com as possibilidades de não morte. Tudo ganha um ar ainda mais divertido a partir do momento que pela primeira vez os personagens passam a tentar sobreviver pelo reconhecimento de tudo aquilo que pode matá-los. O chamado “terror de shopping” não poderia agradecer mais pela presença de Premonição 6: Laços de Sangue.

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