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|Crítica| 'Thunderbolts*' (2025) - Dir. Jake Schreier

|Crítica| 'Thunderbolts*' (2025) - Dir. Jake Schreier

Crítica por Victor Russo.

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'Thunderbolts*' / Walt Disney Studios

 

Título Original: Thunderbolts* (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Jake Schreier
Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, David Harbour, Wyatt Russell, Hannah John-Kamen, Lewis Pullman, Julia Louis-Dreyfus e Olga Kurylenko.
Duração: 127 min.
Nota: 3,0/5,0
 

Ainda que suas ideias nem sempre encontrem um peso visual ou funcionem em conjunto, Thunderbolts* é uma Marvel finalmente conseguindo fazer um filme “menor” que assume a sua farsa

É bem possível que ninguém dê muita bola para Thunderbolts*, dirigido por um quase nada conhecido ou talentoso Jake Schreier, gerando tão pouco interesse quanto os personagens que compõem o grupo principal, nessa espécie de Esquadrão Suicida da Marvel, unindo personagens com pouquíssimo tempo de universo em obras secundárias, como Yelena (Florence Pugh), Alexei (David Harbour), John Walker (Wyatt Russell), Fantasma (Hannah John-Kamen, lembra dela como antagonista no esquecido e esquecível Homem Formiga e A Vespa?) e o único com algum desenvolvimento, mas sempre relegado ao papel de sidekick, Bucky Barnes, ou Soldado Invernal (Sebastian Stan). Acaba que esse desinteresse pelo filme em alguns momentos gere uma obra desinteressante, mas, principalmente, desinteressada, não tanto por ela mesma, ainda que se reconheça como apenas um filme para preencher o calendário de pelo menos três longas do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) por ano, porém, sobretudo, sem tanta vontade de fazer parte desse universo (como exceção do final), o que permite a Schreier finalmente assumir uma obra da empresa como algo menor, meio preocupado apenas com ela mesma, assim como trabalhar ideias que jamais fariam parte dos filmes protagonizados por personagens mais poderosos e importantes do MCU.

Desde os créditos iniciais, quando o logo da Marvel tem o vermelho do fundo mudado pelo preto, Thunderbolts* já se vende como mais sombrio do que seus antecessores de universo. Não é novidade, a Marvel há anos tem instruído os seus diretores, a cada novo filme, a dizer em entrevistas que aquele será o mais maduro do MCU. Nunca o é, a fórmula sempre fala mais alto, assim como o foco dessas obras com uma mentalidade um tanto adolescente. Com Thunderbolts* a figura muda um pouquinho. Ainda que não seja realmente profundo ou sombrio como acredita, principalmente se comparado a outras obras fora desse universo PG-13 que falam sobre saúde mental, e quase tudo se resume aos diálogos que precisam reforçar o tema a todo custo, assim como o seu vilão/antagonista, pelo menos há um interesse real em falar sobre a depressão, a solidão, os traumas, entre tantas outras coisas, do início ao fim do longa. Muitos dirão que isso é fazer o básico, e estarão certos nessa afirmação. Entretanto, mais uma vez, comparando com as obras (sobretudo recentes) do MCU, que geralmente abandonam suas ideias e temáticas centrais para resumir tudo ao final a uma ação bobinha acinzentada cheia de fundo verde e piadinhas, além de uma pretensão meio megalomaníaca que ignora praticamente todas as ideias de encenação, o longa de Schreier ao menos não cede totalmente a essa pressão mais mercadológica, e pensa inclusive em um clímax que pode soar anticlimático, mas funciona bem dentro de toda essa proposta dominante.

Inclusive, o clímax, que desconstrói o espaço físico para se passar em projeções da mente, logo após o vilão ir apagando todo mundo em um efeito bem canastrão à lá estalo do Thanos, é o momento em que Thunderbolts* finalmente consegue pensar em uma mise en scéne capaz de articular as duas ideias dominantes da obra. Isso porque, além de falar sobre saúde mental e suas variáveis, Schreier tem total consciência de estar lidando com uma obra menos importante do universo, compreendendo uma espécie de farsa que move a trama, desde os planos mirabolantes e midiáticos de Val (Julia Louis-Dreyfuss), até, principalmente, uma compreensão de que está lidando com personagens sem muitos poderes e habilidades, um grupo meio juntado pelas circunstâncias e que definitivamente não conseguem trabalhar juntos, muito menos vencer o vilão de poder inesgotável. É como se fosse uma farsa que tira sarro do próprio MCU e sua pretensão de vender qualquer bobagem de filme e personagem como algo importante. Schreier não cai nessa, permite a seus personagens não serem grandes heróis em um final de escala apoteótica, e, sim, permanecerem como esses canastrões em potencial passando por momentos difíceis.

Claro que, no processo, o filme usa e abusa da fórmula Marvel, tendo John e Alexei como os alívios cômicos constantes que rompem qualquer seriedade que o tema possa propor. É como se a farsa e o sombrio estivessem se digladiando o filme inteiro, incapazes de coexistir, mas finalmente habitassem juntos no clímax. Ao deslocar o conflito do mundo real para uma construção psicológica, Schreier mantém essa pequenez tão bem-vinda ao filme (apesar do vilão apagar uma cidade praticamente, tudo parece reservado a uma rua, como se o desastre fosse contido e importasse apenas o que está acontecendo com aqueles personagens), assim como exclui consequências no mundo real, fazendo tudo virar uma espécie de farsa sombria na cabeça do vilão, enquanto o grupo se amontoa lá desastrosamente. Até a resolução, simples, em um abraço, é uma representação dessa conjuntura entre dois caminhos tão distantes fazendo sentido a partir de um elemento banal. Nada de Hulk Vermelho e conflitos internacionais ou intergalácticos, muito menos porta-aviões explodindo ou cidade sendo fisicamente dizimadas. Thunderbolts* compreende seu lugar de não-importância, sofre um pouco na mão de um estúdio que faz filmes sempre iguais para adolescentes ou adultos infantilizados, mas, ao final, consegue algum frescor nessa simplicidade.

 

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