Português (Brasil)

|Crítica| 'Operação Vingança' (2025) - Dir. James Hawes

|Crítica| 'Operação Vingança' (2025) - Dir. James Hawes

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Operação Vingança' / 20th Century Studios.

 

Título Original: The Amateur (EUA)
Ano: 2025
Diretor: James Hawes
Elenco: Rami Malek, Laurence Fishburne, Rachel Brosnahan, Michael Stuhlbarg e Jon Bernthal.
Duração: 123 min.
Nota: 2,5/5,0

 

James Hawes segue à risca a fórmula do thriller de espionagem, com estrutura bastante hitchcockiana, mas revela como a tecnologia pode ser tanto uma benção como uma maldição para o gênero

Operação Vingança é mais um filme a se apresentar nesse tímido retorno dos filmes de gênero aos cinemas, após um hiato em que parecia que longas dessa magnitude (os chamados filmes de médio orçamento), que sempre foram a base do cinema hollywoodiano, ficariam eternamente restritos ao streaming. Se o retorno desses filmes é uma coincidência, um teste dos estúdios ou algo definitivo é difícil ainda mensurar, mas possivelmente haja aí uma resposta para dominância dos longas caríssimos, que saíram de controle e hoje custam mais de U$250-U$300 milhões, grande parte incapaz de pagar todos os custos, que com marketing muitas vezes chegam a números próximos de U$700 milhões. O retorno do médio orçamento poderia ser a tentativa de estabelecer um equilíbrio, ou mesmo uma demonstração de que Hollywood está completamente perdida, atirando para todo lado sem saber mais o que realmente dá dinheiro.

Seja como for, Operação Vingança se posiciona em um lugar confortável, com um protagonista conhecido (o fraco Rami Malek), um elenco de apoio de peso e um diretor (James Hawes) acostumado a ser esse operário na indústria sem muita personalidade. Isso casa bem com a proposta de todo o longa, um tanto genérica, mas inofensiva e que tem em sua despretensão (não completa, já que o filme sutilmente tem um discurso antibélico e coloca uma mulher em posição de poder para combater os homens corruptos e criminosos que ocuparam aquele espaço desde sempre, em uma resolução otimista e um tanto ingênua) uma paixão meio irrestrita ao thriller, ainda que nem sempre o execute com tanta habilidade.

Toda a premissa soa um tanto familiar, desde a vingança pela mulher morta, até principalmente essa dupla perseguição, típica do thriller de espionagem hitchcockiano e bastante influente em período de Guerra Fria, ou seja, ao mesmo tempo em que o protagonista persegue os seus antagonistas (muitas vezes para provar sua inocência de uma acusação infundada, o que não é o caso aqui), é caçado por seus supostos crimes. Dessa vez, essa estrutura é utilizada por uma combinação de dois vilões, os que mataram sua esposa (todos russos ou com ligações ao país, algo bem com cara de Guerra Fria, mas que aqui reflete também a oposição atual americana à Rússia, se aproveitando da Guerra da Ucrânia para esconder seus reais interesses), e a própria CIA (algo bem comum também, a revelação de uma corrupção interna que trabalha com o inimigo, mas reforçando que esses agentes são apenas uma parte do todo). Justamente por essa revelação inicial de todos esses fatores, o longa mal tem reviravoltas, como é comum no gênero, nesse sentido, tem um roteiro mais flat típico de filmes de vingança, ainda que os elementos do thriller de espionagem, como as perseguições em cidades europeias e a vigilância constante, estejam presentes.

Ainda que a execução seja um tanto fraca, tanto nas cenas de ação que recorrem apenas à câmera tremida, e principalmente na impossibilidade de Rami Malek demonstrar emoções em todo o seu arco melodramático de perda (a cena dele recebendo a notícia da morte da esposa e permanecendo com a mesma cara revela isso), com direito a Hawes apelando para cortes de lembranças com a esposa (Rachel Brosnahan) e retornando para um close em Malek (ainda sem emoção), o maior interesse do longa se volta mesmo para a tecnologia, que aqui é tanto benção quanto maldição.

O protagonista que tem suas habilidades não na ação, mas nos conhecimentos tecnológicos e na inteligência acima da média (um reprise do que Malek fez em Mr. Robot, mas agora desmascarado por sua falta de talento e expressividade), traz os melhores momentos e um refresco ao gênero em como se vinga não com uma arma de fogo (lembra do antimilitarismo sutil do longa?), mas a partir de gadgets e dispositivos mirabolantes. Porém, ao mesmo tempo, a tecnologia torna mais difícil a credibilidade na simplicidade das ações do gênero. Em um mundo super vigiado, com possibilidade de deep fake e tantos outros recursos tecnológicos, fica difícil tanto manter essa fuga em curso de maneira crível, como se torna um pouco ridículo a incapacidade dos perseguidores de compreenderem coisas básicas, como o protagonista usando o deep fake para esconder sua localização. Em uma obra que deposita todas as suas fichas nesse assunto, Operação Vingança é bastante descuidado e frágil em seguir existindo com alguma consistência, mas levanta essa bola tão interessante: qual é o futuro do thriller de espionagem em um mundo hipertecnológico e vigiado?

Compartilhe este conteúdo: