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|Crítica| 'O Macaco' (2025) - Dir. Osgood Perkins

|Crítica| 'O Macaco' (2025) - Dir. Osgood Perkins

Crítica por Victor Russo.

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'O Macaco' / Paris Filmes

 

Título Original: The Monkey (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Osgood Perkins
Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Chstian Convery, Colin O'Brien, Adam Scott e Elijah Wood.
Duração: 98 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Mais uma vez, Osgood Perkins retorna ao cinema noventista, dessa vez para rir do horror e seus códigos a partir de um besteirol que rejeita o cinismo e a suposta profundidade das comédias e sátiras contemporâneas

Baseado em um conto de Stephen King, com produção de James Wan e dirigido por Osgood Perkins, tudo que vendia o longa sugeria mais uma obra de horror. O cineasta, que lançara Longlegs meses atrás, tem uma carreira não só voltada para esse gênero, mas com uma inclinação bastante evidente ao macabro, ao satânico, sempre com um clima pesado, uma ideia de que o mal está por todos os lados e não há como escapar dele, já que quase nunca o vemos. Desde Maria e João, longa extremamente modificado pelas diversas interferências dos produtores, já sentíamos a presença desse mal habitando em algum lugar daquela floresta, ou mesmo antes, em February, obra que já flerta com esse interesse do diretor pelo cinema dos anos 1990 (e início dos 2000), nas idas e vindas do tempo como uma forma de esconder o massacre e o satânico por trás de eventos que redefiniriam tudo. Nesse sentido, Longlegs continua seguindo essa lógica do ar que pesa sobre os personagens, enquanto o mal parece presente, mas intocável, só que já se direcionando mais explicitamente para essas referências noventistas, no caso, do filme pessimista de serial killer, com um pézinho e meio em Seven.

É então que Perkins desconstrói a expectativa para retornar àquele período do cinema não mais pelo terror, mas rindo desse gênero com um filme completamente bem humorado, dominado por gags típicas de um besteirol. Ao mesmo tempo, não apela para autoconsciência do gênero, que virou uma muleta bastante pobre após Pânico popularizar com maestria essa combinação de gêneros. O Macaco não pretende ser uma comédia contemporânea, rejeitando completamente esse cinismo típico das sátiras atuais, que se colocam em um lugar de superioridade intelectual frente ao espectador, que se explicam como se fossem as coisas mais inteligentes do mundo. Perkins não quer ser o Adam Mckay de Vice ou Não Olhe Para Cima, mas certamente valoriza o que esse mesmo diretor fez no início da carreira, em obras como O Âncora. Não quer dizer que O Macaco não esteja dizendo algo, ele claramente tira sarro da masculinidade, do pai ausente ou que abandona a família para não lidar com os problemas, passando pelo reflexo que isso gera nos filhos, até, sobretudo, essa obsessão do homem (principalmente estadunidense) a resolver tudo pelas armas e pela violência. Só que Perkins percebe que muito mais interessante do que resolver tais questões com seriedade ou superioridade é transformá-las em um absurdo indiscriminado, na risada pura, já que algo tão ridículo assim merece um quase desprezo completo a ponto de virar uma idiotice sem tamanho.

Perkins conhece o gênero como poucos e se usa dele, mas, mais uma vez, o objetivo é unicamente fazer rir, como poucas comédias atuais tem coragem de ser. Até o momento mais dramático, sempre muito presente recentemente no gênero, é interrompido sucessivamente por um diretor que se faz presente para não esquecer o real objetivo da obra. Então, se os filmes de bonecos amaldiçoados, como O Brinquedo Assassino e Annabelle, encontram a entidade com prazer por mortes bizarras, muito popular na franquia Premonição, é justamente para não ser nenhum dos dois, mas extrair o cômico mais macabro que se pode tirar de cada um deles. O filme é tão despreocupado que escala Theo James como protagonista, de maneira duplicada inclusive, utilizando-se da completa inabilidade desse péssimo ator como uma maneira trágica de não conseguir empatizar com seus traumas. Mais vale a próxima morte bizarra do que realmente o que ele sente. Quando ele mesmo passa a reagir com normalidade a cada cabeça decepada, velório ou vísceras explodindo na sua cara é quando temos a certeza que o longa atingiu finalmente esse lugar de resgate ao sentimento mais puro da comédia, esquecido há tanto tempo. As cheerleaders que comemoram as mortes sendo todas mortas após a aparição do cavaleiro do apocalipse é a cereja do bolo para todas as gargalhadas que vieram antes. No final, trata-se de um longa bastante ousado pela quebra de expectativa de Perkins para com sua carreira e público mais fiel.

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