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|Crítica| 'O Brutalista' (2025) - Dir. Brady Corbet

|Crítica| 'O Brutalista' (2025) - Dir. Brady Corbet

Crítica por Victor Russo.

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'O Brutalista' / Universal Pictures

 

Título Original: The Brutalist (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Brady Corbet
Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Stacy Martin e Alessandro Nivola.
Duração: 215 min.
Nota: 2,0/5,0
 

Falsa cinebiografia de Brady Corbet tem tanta ânsia por ser um épico de prestígio, mas morre em uma imagem vazia em sentimentos e significados e uma narrativa propagandística de choques e caricaturas

Brady Corbet parece desde o início evitar a qualquer custo fazer um Oscar bait convencional, já se exibe desde os primeiros segundos como um filme que clama pela imagem e pelo som em toda a sua grandiosidade, enquanto tem um anseio de reinventar a roda no processo. A abertura com uma trilha imponente, a chegada de Laszlo (Adrien Brody) nos Estados Unidos, saindo de uma escuridão opressiva para encontrar um sonho americano torto como a Estátua da Liberdade, e os créditos iniciais, simulando as cartas enviadas entre os personagens, demonstram essa necessidade que o cineasta tem em se colocar em um lugar de cinema de prestígio, como se gritasse aos quatro cantos do mundo que irá, a partir dali, construir um estudo de personagem nos moldes de uma estrutura de cinebiografia mais convencional, mas que estará fazendo muito mais cinema dos que os filmes desse gênero. A escolha em rodar em 70 mm permite a construção de imagens deslumbrantes nos contrastes de claro e escuro, nas cores mais vivas em certos ambientes e quando filma o pôr do sol ou a colina que será palco da principal disputa do longa, e mesmo numa certa granulação da imagem que remete à memória de um tempo que já passou. Ao mesmo tempo, a trilha sonora não poderia gritar mais, quer se agigantar e demonstrar a imponência de cada ação, revelar que aquilo ali se trata de um grande épico. Só que todas essas escolhas isoladamente “bem feitas” morrem nas mãos de um cineasta que acredita estar concebendo a maior obra do século, mas não poderia fazer tudo de uma forma mais apática. O próprio ímpeto em ser mais do que “apenas um Oscar bait” não funciona para além da página dois, a partir do momento que Guy Pearce surge primeiro, e, posteriormente, com a chegada de Felicity Jones, presos a atuações um tanto caricatas e superficiais bastante típicas da premiação. Brody ainda segura melhor as pontas, demonstrando facetas dessa personalidade complicada e megalomaníaca, visto com certa ambiguidade pela direção, que o ama, mas o reprova constantemente. 

Corbet é vítima de sua própria ambição, que se revela extremamente limitada em visão artística. Todo o trabalho de som e imagem rapidamente se transformam apenas em um mero fetiche de alguém que quer ser declarado como autor. São enfeites bonitos para uma narrativa que não define tom, temas e rumos, que se dedica a falar sobre arquitetura, mas não tem nenhuma paixão em exibir aquelas construções, que busca traçar um debate sobre os imigrantes nos Estados Unidos e como os judeus são vistos (o longa é abertamente sionista e Corbet não vê nenhum problema nisso), só que faz questão de humilhar o protagonista a todo instante, seja com uma moeda sendo jogada nele, os maus tratos diretos e, principalmente, a inexplicável cena do estupro como uma forma de reforçar essa relação dos poderosos sobre os trabalhadores que vêm de fora, algo gritado por todo o longa e que, ainda assim, Corbet achou de bom tom criar esse momento apenas para chocar. Há ainda diversos temas abordados de passagem, como a propaganda pró-Israel ou um debate sobre as drogras e crise dos opiódes no pós-Segunda Guerra, que aparece só de passagem para diminuir ainda mais a figura de Laszlo. A pretensão estilística se revela também em uma ambição por falar de muitas coisas, mas todas elas caem em uma obviedade, falta de sutileza e superficialidade. 

A divisão em partes grita ainda mais os problemas do longa, já que quando o foco está nesse grande artista sendo jogado na sarjeta e percebendo a farsa do sonho americano, ainda há algum estímulo para o acompanharmos, até as imagens ganham algum significado, como esse pôr do sol cheio de conflitos, entre a esperança e o desespero da realidade. A segunda parte, com a chegada de Erzsébet (Jones), toda a ambição de Corbet é jogada no mais convencional de uma cinebiografia de ascensão e queda, sobretudo na incapacidade de construir algo interessante para a personagem que não apenas a esposa do gênio egoico. Todo o discurso de que ela é a mulher forte por trás daquele homem, verbalizado por Harrison Van Buren (Pearce), pouco se prova na prática, e resta a Jones ser a personagem doente de atuação marcada e sofrida. Todavia, se já estava ruim, tudo piora ao final, no catastrófico epílogo, que reconhece a incapacidade do longa em desenvolver suas ideias e usa como muleta o artifício da cinebiografia para explicar tudo que veio antes, a partir de uma imagem que nada conversa com toda a proposta anterior. Em algum lugar, poderia até ser uma ironia de Corbet com o gênero, mas, na prática, não há comentário, apenas seriedade.

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