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|Crítica| 'Babygirl' (2025) - Dir. Halina Reijn

|Crítica| 'Babygirl' (2025) - Dir. Halina Reijn

Crítica por Victor Russo.

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'Babygirl' / Diamond Films

 

Título Original: Babygirl (EUA)
Ano: 2025
Diretora: Halina Reijn
Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Sophie Wilde, Leslie Silva e Esther-Rose McGregor.
Duração: 115 min.
Nota: 3,0/5,0
 

Apesar do bom jogo de olhares e dominação do ponto de vista entre Nicole Kidman e Harris Dickinson, para um filme que busca evidenciar o prazer feminino, Halina Reijn faz questão de suavizar ou apressar quase todas as passagens mais provocativas e eróticas

Babygirl é um reflexo de seu tempo, tanto em transgressão quanto em suavização. O novo longa de Halina Reijn pode soar mais provocativo do que quase todos os filmes feitos em Hollywood atualmente, uma indústria dominada por obras PG-13 e que escanteou quase completamente uma das suas maiores fontes de público nos anos 80 e 90 (e até no começo dos 2000): o thriller erótico. A nova parceria entre a cineasta e a A24 chega então como um suposto retorno de um gênero que não morreu, mas ou se fetichizou de forma bem soft em franquias meio adolescentes, como Cinquenta Tons de Cinza, ou virou raridade para serviço de streaming, como Águas Profundas, de Adrian Lyne (um dos nomes históricos desse tipo de filme), da Amazon Prime Video. Ao mesmo tempo, ao redor do globo, sobretudo na França, mas também no Brasil, por exemplo, o mais explícito ou pelo menos a sensualidade sugerida continua se fazendo presente aos montes, dentro e fora do thriller.

Dessa forma, Reijn constrói melhor do que nos faz sentir, como se tivesse mais preocupada com a temática e o discurso feminista colocado às pressas no final, e menos com esse envolvimento sexual sendo exposto em tela. Assim, o longa até começa bem, da atuação inicial da protagonista (Nicole Kidman) em relação sexual com o marido (Antonio Banderas), à, principalmente, como vai deixando pistas do que ela sente ao ver Samuel (Harris Dickinson) desde a primeira vez, o garoto que domina um cachorro e rapidamente percebe que toda a pose da empresária não passa de uma fachada para desejos sexuais mais profundos, alguém que quer ser dominada. Então, Romy é quem detém o ponto de vista do longa, estamos sempre a vendo ou enxergando aquilo que ela está mirando. Samuel passa a ser esse objeto de interesse, quase sempre visto à distância, como se fingisse não perceber que está sendo olhado, a típica dinâmica do cinema hitchcockiano, só que invertida, cedendo à personagem feminina esse poder voyeurista e ao homem a capacidade de manipular. Claro que isso não é novidade no gênero, grande parte do thriller erótico passa por esse jogo de ser vista(o) e se usar disso, em relações que não raramente envolvem personagens casados e amantes mais jovens que vão se revelando perigosos gradualmente.

Enquanto Reijn se permite tocar em temas mais provocativos em um período de cinema educativo para agradar discursos prontos nas redes sociais, ela suaviza tanto essa provocação em termos imagéticos que acaba se transformando em algo não muito diferente desses soft porn para adolescentes que têm tido bastante espaço no mercado desde Cinquenta Tons de Cinza. É como se no processo de chacoalhar a turminha do twitter que grita “male gaze!” a qualquer representação feminina em tela, Reijn se colocasse em um lugar tão seguro, com um discurso pronto ao final, que desse a volta e conseguisse agradar esse mesmo pessoal. Se em Morte, Morte, Morte a desconstrução do slasher vem carregada de uma certa vergonha em ser filme de terror, algo bastante semelhante acontece em Babygirl, a partir do momento que o longa clama pelo prazer feminino, mas pouco o mostra, para além da ótima cena do quarto de hotel. Vemos Kidman sofrendo ou passando vontade, mas sempre chega a hora dela saciar o que tanto deseja, Reijn acelera a montagem, reduzindo-a a poucos planos rápidos sem qualquer erotismo, o que é um desperdício ainda maior, já que todo o flerte sexual entre Kidman e Dickinson parece pronto em tela, mas só é explorado nas preliminares, nunca para valer.

Como em sua obra anterior, Reijn se sai melhor quando parte para uma abordagem pontualmente mais cômica, nas situações e reações inesperadas dos personagens, do que quando tenta mergulhar de forma mais profunda nas sensações enraizadas no gênero que domina a obra. Para um thriller erótico sobre fetiches e o prazer feminino, não há a provocação mais direta de um Michael Haneke, que o longa parece até se inspirar, e menos ainda o tesão ardente, em uma recusa grande inclusive de trazer cenas de sexo e nudez.

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