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|Crítica| 'Banel & Adama' (2024) - Dir. Ramata-Toulaye Sy

|Crítica| 'Banel & Adama' (2024) - Dir. Ramata-Toulaye Sy

Crítica por Victor Russo.

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'Banel & Adama' / Imovision

 

Título Original: Banel & Adama (Senegal)
Ano: 2024
Diretora: Ramata-Toulaye Sy
Elenco: Khady Mane, Mamadou Diallo, Binta Racine Sy e Moussa Sow.
Duração: 87 min.
Nota: 3,0/5,0
 

Mais do que apenas as tradições, a imagem cinematográfica de um espaço místico em destruição se torna a barreira para o amor que vira apenas uma projeção

Ramata-Toulaye Sy era a única diretora estreante na competição do Festival de Cannes 2023, o que geralmente é apenas uma mensagem do Festival para dizer que existe renovação e não são sempre os mesmos cineastas na disputa, quando, na verdade, a senegalesa e o seu filme, assim como os casos parecidos que a precederam ou a sucederam, não teve qualquer espaço nas discussões daquele ano, tornando-se apenas esse sentir-se bem do Festival mais importante do mundo, a ilusão de uma amplitude na seleção que não existe realmente. Reassistir Banel e Adama mais de um ano depois ganha um significado diferente e mais impactante. Primeiro pela ausência desse peso da exibição em Cannes, essa fase já passou e foi permitido aos filmes lá exibidos agora se libertarem para serem eles mesmos e gerarem novas percepções, sem se preocupar com prêmios. O segundo motivo é ainda mais doloroso, é quando uma nova realidade se impõe em outro lugar do mundo e traça um paralelo com essa ficção. O Brasil pega fogo, há no ar uma situação de fim do mundo, na dificuldade de respirar e no calor anormal em pleno inverno. Fica ainda mais fácil sentir o peso do espaço sobre nós e criar uma empatia um tanto maior pela protagonista do filme (Khady Mane).

Ramata-Toulaye demonstra uma maturidade grande ao partir de uma premissa bastante convencional, um casal que se ama encontrando a barreira da tradição local, e revelar suas referências, em um olhar inicial um tanto malickiano para a imagem e a natureza, com um ar contemplativo daquele espaço, a água correndo no rio, a poeira no ar e os movimentos lentos de personagens com vestimentas coloridas, só que, aos poucos, a cineasta vai desconstruindo essa lógica de embelezamento para criar uma imposição espacial quase mística pela imagem cinematográfica. É como se todo tipo de vida fosse sendo drenado diante dos nossos olhos, impedindo uma fuga para o casal, limitando-os àquele local. Ouvimos sobre o mercado, por exemplo, mas nunca o vemos, só há aquela aldeia para os personagens. A tradição, que é a barreira inicial, parecia facilmente quebrada pelo amor dos dois, com seus nomes gravados sucessivamente em um papel. Adama (Mamadou Diallo) nem pensa duas vezes antes de recusar a posição de líder da aldeia, que sua mãe tenta impor à força como algo natural. Banel não parece nem um pouco incomodada também por ser criticada, mal vista ou ter um afastamento de todos à sua volta. Os escritos “Banel & Adama” soam fortes o suficiente, assim como o plano de desenterrar a casa em que sonham morar.

É aí que o tempo e o espaço se apresentam como adversários impossíveis de se confrontar, o papel e os escritos à caneta passam a exibir certa fragilidade e começam a se borrar pelas lágrimas, o calor torna quase impossível desenterrar a casa, a seca mata os animais e dificulta a vida de qualquer pessoa naquele local. Adama cede à tradição, não por vontade, mas por se tornar refém do tempo. Ramata-Toulaye continua filmando com contemplação, buscando closes e planos-detalhe, diferenciando Banel dos demais a ponto de praticamente escutarmos os pensamentos dela, mas não há mais beleza ou apreciação naquelas imagens. O gado nos campos verdes é substituído por suas carcaças no deserto, as roupas de Banel perdem cor, assim como sua pele e toda a imagem vão ficando sujas por essa areia que toma conta de tudo. É como se juntos eles conseguissem romper o passado, mas não o presente. A sequência final revela tudo de forma poderosa, não só pela narração em off, mas principalmente pela imagem. A protagonista olha com alguma esperança para a casa que sonha em morar, uma espécie de último suspiro que a permite romper com a aldeia que a oprime. Então, uma grande tempestade de areia surge ao fundo, relembrando a impossibilidade de viver, a diminuição de cada ser frente ao ambiente que sufoca.

 

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