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|Crítica| 'Oddity - Objetos Obscuros' (2024) - Dir. Damian McCarthy

|Crítica| 'Oddity - Objetos Obscuros' (2024) - Dir. Damian McCarthy

Crítica por Victor Russo.

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'Oddity - Objetos Obscuros' / O2 Play

 

Título Original: Oddity (Irlanda)
Ano: 2024
Diretor: Damian McCarthy
Elenco: Carolyn Bracken, Jonathan French, Steve Wall, Joe Rooney, Gwilym Lee e Caroline Menton.
Duração: 98 min.
Nota: 3,0/5,0
 

Conto contemporâneo de Damian McCarthy tem consciência de seu tamanho e constantemente joga com as expectativas e com a relação real e sobrenatural

Em meio a uma enxurrada de filmes que rapidamente são tratados como “melhor terror do ano”, sendo a grande maioria ruim, e um ou outro realmente marcante, às vezes, alguns desses longas não estão nesses pólos, são agradáveis o suficiente por serem honestos e charmosos. Ainda que dificilmente serão lembrados por muito tempo e podem ser vítimas da expectativa, esses poucos longas aparecem como refrescos conscientes de seus lugares. Este é o caso de Oddity – Objetos Obscuros, de Damian McCarthy, que tem distribuição oficial no Brasil pela O2, mas que chega da forma modesta como se apresenta em tela, apenas com sala em um cinema de São Paulo (Reag Belas Artes) e simultaneamente para aluguel digital.

McCarthy vai partir de elementos comuns ao terror, uma personagem sozinha em uma grande casa isolada (possivelmente mal assombrada) sendo atormentada durante a noite, um conflito entre o ceticismo e a fé no sobrenatural, objetos amaldiçoados, etc. Entretanto, tudo isso se envelopa a partir de um cuidado com a imagem e a construção espacial, sobretudo da grande casa que domina a narrativa, partindo já de uma planta inusitada, como um quadrado em que o meio é vazado e, apesar de muito grande, é construída com longos corredores relativamente estreitos, se comparados ao todo, muitas escadas e diversas sombras projetadas. Quando tem sua primeira aparição, ainda de longe em um grande plano geral, já revela alguma mística, reforçada pelo contato inicial do longa com Dani (Carolyn Bracken), sugerindo um protagonismo para a personagem, que depois passará para sua irmã gêmea Darcy (vivida também por Bracken), nesse espaço em construção, com ausência de luz e móveis, aumentando a dimensão dos espaços vazios e dos escuros. Resta a Dani o registro como segurança, ou melhor, comprovação da realidade. A câmera, em muitos momentos esquecida da narrativa, revela-se como esse aparato dúbio que representa a dicotomia de percepções frente ao sobrenatural. Ao mesmo tempo que capta a realidade frente a ela e serve até como material incriminatório, um olhar um tanto mais cético e científico que estimula Dani a posicioná-la no local tirando fotos automaticamente, a ideia de usá-la parte de Darcy, vendo nesse objeto uma possibilidade de transcender o que o olho humano é capaz de enxergar e revelando aqueles que aqui habitam depois da morte (mais um uso bastante comum no terror em filmes com fantasmas e semelhantes). É curioso inclusive como essa câmera vai apresentar a Dani o assassino que se escondia no local, enquanto Darcy vai visualizar imagens não a partir de seus olhos, mas em um campo muito mais psíquico, ao tocar objetos. 

Então, a graça de Oddity está justamente em como cria algumas ideias e artifícios a partir do mais simples, a casa amaldiçoada e a invasão domiciliar, o sobrenatural e o real. McCarthy nos conduz como se tivéssemos visualizando, graças à câmera, uma espécie de conto contemporâneo de terror, um daqueles folclóricos que vai passando por gerações e desenvolvendo um imaginário sobre locais sem nunca sabermos se aquilo tudo realmente aconteceu, de forma até semelhante à história dentro da história que Darcy conta a Ted (Gwilym Lee) sobre a campainha do hotel. A diferença está justamente em como essa se faz presente diante de nós, pela câmera e pela montagem, artifícios cinematográficos que permitem a essa narrativa quebrar constantemente as expectativas e construir o horror a partir de um trabalho imagético dos seus símbolos, como o assassino mascarado em que a máscara não permite visualizar qualquer humanidade, sobretudo por esconder o olho, o ser de madeira que mesmo estático já é assustador o suficiente por conservar essa estrutura humanoide, mas com um rosto um tanto bizarro. Tudo isso com uma quebra constante de pontos de vistas e protagonismos, passando primeiro de Dani para Yana (Caroline Menton), que vai agir de uma forma que não esperamos para uma protagonista de filme de terror, justamente uma que é apresentada de forma um tanto detestável, por morar na casa do namorado, que a tinha como amante quando a esposa dele foi assassinada brutalmente no mesmo local menos de um ano antes, ou pela forma como fala, meio mesquinha e pouco convidativa. Só que, aos poucos, se revela menos como uma possível vilã ou personagem que existe apenas para morrer, e se retira da história como qualquer pessoa minimamente consciente faria no seu lugar, entregando assim o protagonismo à Darcy.

Dessa forma, é como se mais uma vez McCarthy estivesse trabalhando sob a lógica de contos, que até se conectam, pelo marido, pela casa, pelo assassino e por serem personagens interligadas que até se conversam pessoalmente ou por telefone, mas que cada uma terá o seu protagonismo dentro daquele lugar por um tempo limitado, a partir do confronto e da percepção com o real vilão. Só que, se por um lado Oddity tem esse charme de trabalhar com simplicidade e mergulhar sem medo no terror de forma bastante visual e sensorial, o longa também se trai ao acreditar ter alguma complexidade na trama, que não só não existe como se torna um pouco irritante em como o roteiro faz questão de pontuar, em um ou dois momentos até voltando para explicar o óbvio, elementos que já haviam sido sugeridos anteriormente e apenas isso já bastaria. Mas, ao final, isso incomoda menos, já que o longa tem, de forma geral, a consciência do que realmente é.

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