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|Entrevista| Protagonista de 'O Dia Que Te Conheci', Renato Novaes conversa sobre o lançamento do filme

|Entrevista| Protagonista de 'O Dia Que Te Conheci', Renato Novaes conversa sobre o lançamento do filme

Elogiada comédia romântica mineira estreia dia 26 de setembro nos cinemas.

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Renato Novaes em cena de 'O Dia Que Te Conheci'.

 

Renato Novaes, protagonista de 'O Dia Que Te Conheci' e irmão do diretor do longa, André Novais Oliveira, estava em São Paulo para fazer a divulgação do filme mineiro, que chega aos cinemas de todo o país em 26 de setembro via Filmes de Plástico. Nosso crítico, Victor Russo, entrevistou o ator.

Confira abaixo o papo:

Filmes & Filmes: O Dia Que Te Conheci é um filme é bem brasileiro como um todo, mas o que você vê, assim, mais de especificidade de Minas Gerais mesmo no filme? 

Renato Novaes: Bom, é isso, Victor. Não tem como negar que é um filme mineiro, né?
Não só pela questão do sotaque, da maneira de falar, mas coisas que são muito importantes para a gente apresentar, como alguns locais também. Tipo, o Viaduto de Santa Tereza, que é um dos pontos que passam ali. E é isso, é um filme com características muito peculiares, assim, e é mais um filme do André, né? Então, eu acho que tem uma aura, tem uma assinatura dele para contar histórias, para montar diálogos, para criar nuances.

F&F: Eu sinto que o André tem uma encenação muito particular, com muitos planos longos, com diálogos mais longos. Enfim, você e a Grace também já trabalharam com ele anteriormente, mas o quanto disso é mais difícil para vocês, enquanto atores, e o quanto dá uma liberdade maior para o ator?

Renato: Essa encenação, onde o Dé propõe essas questões de diálogo, a gente conversa bastante, não é a primeira vez que eu filmo com o meu irmão. A Grace também, a gente já teve um par que a gente fez em Temporada. Também tem essa facilidade de ser irmão dele. Acho que ele sabe aonde eu posso chegar e essas conversas são permanentes, elas são
constantes. Eu acho que talvez essa facilidade que muita gente vem perguntar, principalmente se o filme tem muitos improvisos, na verdade, não tem tanto assim quanto as pessoas imaginam. Aquilo ali é roteiro mesmo, a gente seguiu todo o ritual da feitura de um filme. E eu acho que essa intimidade que a gente tem ali, sabe, entre eu, Dé e a Grace, é intimidade de set mesmo. É uma generosidade, eu acho, de todo mundo ali. Principalmente da Grace, que tem muito mais experiência.

F&F: O Zeca é um personagem muito mais contido, às vezes até um pouco ingênuo, muitas vezes a Luisa (Grace Passô) tem que tomar a frente. Então, como que vocês pensaram juntos essa dinâmica dos dois personagens, que são bem diferentes, mas que vão encontrando algo em comum, até numa lógica muito própria do filme, um filme que é uma comédia, mas, ao mesmo tempo, vai trabalhar temas muito sérios? 

Renato: Então, a gente se preocupou muito, no momento até de estar lendo o roteiro a primeira vez, quando fizemos essa leitura online, a gente se preocupou muito com como seria esse ponto da interação dos dois. Como seria essa construção, essa crescente, para não deixar desde os primeiros momentos de encontro ali, meio que, sabe, eles vão ficar. Tentar adiar isso o máximo possível, talvez foi a coisa que a gente mais construiu entre nós três, conversando, e a gente foi tateando como que a gente encontrava isso, isso na conversa anterior e depois durante as filmagens. Tem, claro, essa inocência. E tem também essa questão do encontro inusitado, sabe? 
O encontro inusitado traz uma aura, de será que pode, será que vai acontecer? Então, o filme tem esse sabor delicioso que se passa num dia só. Eu acho isso formidável, eu sempre gostei de filmes que se passam em um dia só e estou muito orgulhoso de ter feito um filme que se passa em um dia.

F&F: Eu gosto até de como o  pôster brinca com essa comédia mais popular de alguma forma, mas por mais que eu ache que o filme se conecte com muita gente, ele tem algo que é muito dessa estética brasileira, dessa estética mineira, dos silêncios, de como os personagens agem, de como eles parecem desconfortáveis. E, no fim, é uma comédia que trabalha temas muito sérios. Tem um momento no começo que eu gosto muito, quando ele pede pro companheiro acordar ele, que ele fala “Pode jogar água na minha cara mesmo”. É um momento muito engraçado, e, ao mesmo tempo, o Zeca está falando com uma naturalidade muito grande. Como é trabalhar essa dinâmica de humor que, muitas vezes, não tá partindo de uma intencionalidade do personagem a piada?

Renato: Inclusive, como você falou isso aí, o Dé fala que o fio condutor do filme, basicamente, como surgiu a história, foi disso, esse amigo dele falando essa questão de dificuldade para acordar, essa questão da mentira do sono, né?
Então, isso é verdade, o Dé trouxe isso de uma coisa que ele escutou, uma coisa que ele viu que é real. Acho que é isso, o filme tem esse envelope que é a questão da comédia romântica, só que a gente traz muita coisa muito cara para a gente. A gente está falando sobre a precariedade do trabalhador brasileiro, a mobilidade urbana, a questão da saúde mental da população negra. E, conversando com a Grace, inclusive até ontem, o quanto que gerações de famílias negras na periferia tiveram problemas com membros da família com saúde mental. Isso não é discutido, não é investigado e vamos embora, passa por cima disso, as pessoas tentam viver uma vida normal, mas isso não é muito conversado, isso não é muito discutido e eu acho que, principalmente depois da pandemia, aumentou bastante essa questão de uso de remédios. Acho que isso conecta bastante pessoas, né? E se identificam depois de ver o filme. 
E é isso, eu acho que a história do Zeca e da Luísa traz isso, sabe? E dentro desse contexto, a gente está apresentando duas pessoas pretas, de corpo não padrão, que eu acho que isso é importante falar também, e vivendo a interação, daqui a pouco com o relacionamento, nesse lugar que não é muito retratado. Eu me sinto representando bastante pessoas, sabe? E eu fico muito orgulhoso e responsável por ativar isso nas pessoas.
 

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