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|Crítica| 'Transformers: O Início' (2024) - Dir. Josh Cooley

|Crítica| 'Transformers: O Início' (2024) - Dir. Josh Cooley

Crítica por Victor Russo.

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'Transformers: O Início' / Paramount Pictures

 

Título Original: Transformers One (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Josh Cooley
Elenco: Chris Hemswoeth, Brian Tyree Henry, Scarlett Johansson, Keegan-Michael Key e Steve Buscemi.
Duração: 104 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Ainda que siga sem se arriscar os elementos mais básicos de uma história de origem, sempre sob um discurso liberal, Josh Cooley referencia os filmes de Michael Bay, executando de forma mais clara as mesmas ideias visuais para a ação

Transformers: O Início surge como uma nova aposta da franquia para dar vida nova à saga, um dos potes de ouro dessa associação entre Hasbro e Paramount, mas emperrada criativamente desde sempre, a ponto de ir perdendo gradativamente o interesse do público filme a filme, sendo o quinto longa o primeiro a não ultrapassar os U$ 700 milhões em bilheteria mundial, o spin off Bumblebee o primeiro a não chegar a U$ 500 milhões, e o retorno da saga principal, em 2023, dessa vez sem Michael Bay na direção, O Despertar das Feras, o único a praticamente igualar a bilheteria ao custo de produção/marketing. Se não tá indo para frente, nem para os lados (no caso, os spin off), a decisão é quase sempre retornar às origens, acenando, claro, aos elementos que os fãs mais estão acostumados, como o conflito entre Optimus Prime e Megatron, além do popular Bumblebee como o alívio cômico. Entretanto, mais do que apenas uma história de origem do universo, a obra vai mais fundo nessa volta, tendo a animação como o novo caminho, justamente o primeiro passo da transição dos bonecos da Hasbro para o audiovisual décadas atrás, seguindo aquela cartilha da nostalgia que Hollywood ama para agradar o fã das antigas.

Josh Cooley é, então, um nome acertado para essa continuação de recomeço que nada muda no futuro. Se o prequel é uma forma de manter a franquia tendo filmes sem necessariamente avançar muita coisa, mas trazendo mais elementos para serem usados (ou que já apareceram) lá na frente, buscar o diretor de Toy Story 4, justamente uma sequência inesperada da maior franquia da Pixar, que tinha no terceiro filme já uma clara finalização, faz sentido, não só por ser alguém com domínio da animação 3D de alto orçamento, mas, principalmente, por se colocar nesse lugar de homenagens e referências, tal qual o quarto filme dos bonecos que ganham vida, enquanto tem em composições visuais o único real interesse que se diferencia daquilo que veio antes. No caso do longa de 2019, essa novidade não era bem uma novidade, a partir do momento que era apenas uma evolução na realidade da técnica, tornando essa animação um pouco menos animação e um tanto mais parecido com a vida real, tudo a ver com aquele filme que só exibe o orçamento da imagem sem nada de novo para a franquia. 

No caso de Transformers: O Início e pensando que esse continua fazendo parte do universo live-action começando em 2007, mas não do das animações anteriores, Cooley tem uma base visual um tanto inexplorada e que ele lida bem para a construção desse universo não tão apresentado de Cybertron, tendo toda uma preocupação de dar vida para o planeta desses seres cibernéticos, assim como um passado, um futuro e uma causa, desenvolvendo um visual interessante em como trabalha tudo que está ao fundo ou mesmo com algumas soluções criativas, como um flashback por meio de um pó. Entretanto, o destaque mais intrínseco à animação está justamente nas cenas de ação, em que o cineasta presta homenagem às escolhas visuais e de montagem que marcaram a franquia sob o controle de Bay, com os cortes e o slow motion, enquanto metal bate em metal, mas consegue, por meio da fantasia da animação, tornar essa imagem mais clara para o espectador, dando total dimensão dos acontecimentos simultâneos de robôs lutando contra robôs. A homenagem vem ainda em outros elementos narrativos, como os sons desses seres, na apresentação de exposição ou nos discursos filosóficos de Optimus Prime, que viraram meme na internet.

Entretanto, se a animação consegue ganhar vida visualmente, há de se perceber também que em nada ela se arrisca, sobretudo pensando na mitologia do universo ou mesmo na construção de uma história de origem. É um tanto formulaico a forma como recorre para um protagonista único, com esperança por descobrir a verdade, fazer o bem e impulsionar o restante junto com ele, que parte em uma missão e vai sendo confrontado e evoluindo a partir disso, seguindo aquele discurso liberal típico e ao qual a jornada do herói se encaixa tão bem, por isso, ainda hoje, sempre se recorre a ela em Hollywood, de questionar as contradições do capitalismo, sempre exigindo de trabalhadores pobres que trabalhem para a obtenção de riqueza de uma pequena elite burguesa, ao mesmo tempo que reforça o individualismo das ações como única opção de mudança. Optimus Prime pode ter ajuda, mas, no final do dia, ele é o agente da mudança, naquela ideia caída de sempre da meritocracia, virando ele o líder, e não apenas parte da revolução dos trabalhadores alienados. Além disso, há também a conciliação liberal de sempre, que faz o personagem rejeitar a agressividade de Megatron (em uma relação meio semelhante à de Charles Xavier e Magneto), colocando como superior o perdão e o recomeço, e transformando o radical em vilão, ainda que, como se convencionou nessa Hollywood atual que paga de complexa, sua vilania não seja totalmente injustificada e tenha aqueles elementos que virou clichê chamar de “tons de cinza”. 

Assim, no final do dia, Transformers: O Início é competente em sua proposta de origem tal qual joga completamente na segurança do que vem “dando certo”, em nenhum momento desafiando o público ou tendo uma preocupação maior com a narrativa cinematográfica. Contenta-se em ser o feijão com arroz bem feito e nada mais. Para muitos, sobretudo os fãs mais antigos, talvez isso baste.

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