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|Crítica| 'Ligação Sombria' (2024) - Dir. Yuval Adler

|Crítica| 'Ligação Sombria' (2024) - Dir. Yuval Adler

Crítica por Victor Russo.

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'Ligação Sombria' / Diamond Films

 

Título Original: Sympathy for the Devil (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Yuval Adler
Elenco: Nicolas Cage, Joel Kinnaman, Alexis Zollicoffer, Cameron Lee Price e Rich Hopkins.
Duração: 90 min.
Nota: 2,0/5,0
 

Colateral encontra Marcas de Violência antes de ser sequestrado por Nicolas Cage em piloto automático, em um filme que faria um sucesso tremendo na era das locadoras

É um tanto curioso o momento da carreira de Nicolas Cage, que após surgir como um dos nomes mais promissores e talentosos dos anos 80 e 90, e ter boas atuações até no início dos anos 2000, passou por problemas pessoais, acumulou dívidas e começou a pegar qualquer papel em filme questionável, transformando-se em uma caricatura que se eternizou como símbolo de ruindade e atraiu fãs ao redor do mundo, sempre com a expectativa de rir mais do ator do que com ele ou com o filme. Tudo isso já é sabido, mas, aos poucos, na última década, o ator vem retornando a papéis mais interessantes, voltando a atuar e não só reproduzir as mesmas caras e gritos. Só que, ao mesmo tempo que adquire algum prestígio com essas obras do cinema independente com bons diretores ou visando premiações (Longlegs, Pig, O Homem dos Sonhos, Mandy, entre outros), ele não deixou de fazer as caricaturas de si mesmo, às vezes de forma mais assumida, mas não menos tosca (O Preço do Talento), às vezes apenas no piloto automático de sempre para ganhar uma graninha (Willy’s Wonderland, Reinfeld), o que é um pouco o caso de Ligação Sombria.

Assim, Yuval Adler não tem vergonha nenhuma de exibir as suas referências, a começar pela mais óbvia: Colateral (alguns mais das antigas talvez pensem também em Hitch-Hiker). E, aos poucos, vai ficando claro também uma intenção semelhante a de Marcas de Violência (ou do indiano mais recente e adaptado da mesma HQ, Doce e Sangrento), por mais que o cineasta tolamente fique tentando esconder essa revelação óbvia à sete chaves, a fim de criar um momento super revelador ao final, que obviamente não funciona pela previsibilidade. A partir daí, não há muita inspiração, apenas Cage sequestrando o protagonismo de Joel Kinnaman e até qualquer indicação de Adler. É como se a partir do momento que ele entrasse naquele carro, nada mais importasse, a cidade filmada na sequência inicial perde relevância, assim como todos que cruzam o caminho da dupla, ou mesmo a ideia de decupar essas cenas pelo cineasta seguissem um direcionamento quase protocolar de plano e contra plano, além de uma dificuldade imensa de filmar a ação ou o vilão matando inocentes. 

Claro que não podia se esperar nada de diferente, a partir da primeira aparição de Cage, vestido com um terno vinho e o cabelo pintado de vermelho, uma espécie de representação do demônio na Terra, estava bastante óbvio o que veríamos durante aqueles 90 minutos (e que bastará para os fãs do ator que amam rir do seu overacting). Daí para frente tudo vira um grande show de improviso de Cage (se ele estava realmente improvisando ou não, isso pouco importa). É gritaria, risadas malignas, caras e bocas exageradas, a cabeça se mexendo sem parar, todos aqueles trejeitos típicos de quando o ator aparece em cena dando a impressão de que cheirou 1kg de cocaína. É uma energia caótica meio tosca, reforçada pelo texto despreocupado, que é tão ridículo quanto hipnotizante. É impossível desviar o olho de Cage, é como uma droga ruim que provoca vergonha, mas mesmo assim seguimos fixos ali, rindo de constrangimento, esquecendo que existe algo naquela mise en scène para além do ator.

Ao final, Ligação Sombria soa um tanto ultrapassado, não só pelo momento atual de Cage, nessa busca por recuperação da carreira, mas principalmente porque esse tipo de thriller de orçamento modesto e preocupação estética mínima é a cara do filme dos anos 2000 que iam direto para a locadora e passavam a ser conhecidos justamente pelo boca boca, muito antes do meme das redes sociais existir. A falta das locadoras físicas fez com que esse tipo de obra cada vez mais fosse parar de gaiato nos cinemas, local ao qual não parece pertencer, restando à obra de Adler ser salva apenas pelo Prime Video nos próximos meses, o último bastião do “filme de locadoras”.

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