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|Crítica| 'Quando Eu Me Encontrar' (2024) - Dir. Amanda Pontes & Michelline Helena

|Crítica| 'Quando Eu Me Encontrar' (2024) - Dir. Amanda Pontes & Michelline Helena

Crítica por Raissa Ferreira.

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'Quando Eu Me Encontrar' / Embaúba Filmes

 

Título Original: Quando Eu Me Encontrar (Brasil)
Ano: 2024
Diretoras: Amanda Pontes e Michelline Helena
Elenco: Luciana Souza, Pipa, David Santos e Lucas Limeira.
Duração: 78 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Amanda Pontes e Michelline Helena trabalham na movimentação os cotidianos que tentam se adaptar e compreender um espaço vazio em suas estruturas

Ao acompanhar a vida bastante comum de seus personagens, Quando Eu Me Encontrar se apega a um cotidiano prestes a mudar completamente, mas sem fugir de suas normalidades. É como se as primeiras cenas fossem uma premonição de Antônio (David Santos) de que alguma coisa já se transformou. A confirmação da partida de Dayane vem sem alarde, silenciosa, em uma carta que se oculta do espectador assim como sua própria figura. Não sabemos quem é essa mulher, como ela se parece, o que faz, seus motivos para partir ou seu paradeiro, tudo que conhecemos é sua voz. Se há alguma pista desse mistério é provavelmente a música de Cartola que inspira o título do longa e é cantada em uma noite escura, talvez pelas duas irmãs, talvez por Dayane e sua amiga, logo na introdução. Com uma estrutura aparentemente sólida, emprego, um noivo, uma mãe dedicada e uma irmã em uma complexa fase de transição na adolescência, Dayane se torna uma ausência constante no filme que pouco reflete seu destino ou possibilidade de retorno, mas se dedica a acompanhar cada pessoa tentando se adaptar ao novo vazio em suas vidas. De forma irregular, as músicas operam algum papel na comunicação dos personagens e seus sentimentos, cantaroladas entre tarefas ou palcos, tocadas dentro ou fora da diegese, mas são as ações de cada um deles desenroladas individualmente que revelam mais sobre suas jornadas a partir dessa ausência inesperada.

Para Antônio, a partida da noiva tira completamente seus eixos, o fazendo vagar em busca de respostas e se conectar a Cecília (Di Ferreira) como única forma de descobrir algo. Os dois constroem uma relação no bar em que a mulher canta e o homem espera dia após dia que ela lhe revele alguma informação. Mariana (Pipa) se adapta, no meio desse desaparecimento, a uma nova escola com colegas de outra realidade, e vive seus dramas muito particulares e desconectados ao que ocorre em sua casa. Mas, ao mesmo tempo, tem no lar o lembrete constante do vazio que a irmã deixou, recorda dela pelo som da voz, um vestido deixado e seu quarto que, aos poucos, vai ocupando como parte da superação da família ao preencher o espaço que ficou. Marluce (Luciana Souza) é contida desde os primeiros segundos, sua reação inicial é simplesmente retirar a mesa posta para Dayane. Como a típica mãe forte que precisou ser para criar as filhas, tenta segurar a aparência de sua estrutura inabalada mesmo que seja perceptível seu transtorno interno. O rompimento abrupto com a filha que deixa apenas uma folha de papel a obriga a enfrentar questões aparentemente adormecidas com a própria mãe. Ninguém sai ileso à partida de Dayane, todos os cotidianos se alteram por sua ausência, mas Quando Eu Me Encontrar o faz sem espetáculos, sempre se mantendo dentro dessa observação comum de vidas normais, sem lugar para que suas dores sejam grandes tragédias, são parte de suas rotinas que se adaptam e contornam as dificuldades a cada dia. 

Mesmo nos desafios adolescentes de Mariana com sua amiga de escola, a menina deixa claro que é preciso enfrentar tudo de cabeça erguida. Marluce segue montando sua banca de comidas e se Antônio estava estagnado em sua vida, a partida de Dayane certamente o coloca em movimento. Se ela fugiu para se encontrar, talvez nesse processo todos os outros tenham tido a mesma oportunidade, e Amanda Pontes e Michelline Helena se concentram nessa movimentação, na ocupação dos espaços vazios, no abalo estrutural que altera o que estava parado, na mudança de rotina que permite uma folga do trabalho exaustivo para também se divertir. Nessa acomodação da vida apesar da ausência, Dayane se esconde em todos os aspectos do espectador, até mesmo em sua mensagem final, preservando sua imagem e toda forma de comunicação que deixa para aqueles que de fato precisam. Para quem assiste, basta o sorriso de Marluce para que o seguir em frente continue em curso, agora mais aliviado.

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