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|Crítica| 'Golpe de Sorte em Paris' (2024) - Dir. Woody Allen

|Crítica| 'Golpe de Sorte em Paris' (2024) - Dir. Woody Allen

Crítica por Victor Russo.

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'Golpe de Sorte em Paris' / O2 Play

 

Título Original: Coup de Chance (França)
Ano: 2024
Diretor: Woody Allen
Elenco: Lou de Laâge, Valérie Lemercier, Melvil Poupaud, Niels Schneider e Elsa Zylberstein.
Duração: 96 min.
Nota: 2,5/5,0
 

Woody Allen reconhece todos os clichês que conduzem a narrativa, mas prefere se acomodar nesse lugar de quase nenhuma inspiração

Woody Allen, como boa parte dos cineastas autorais, é há muito tempo acusado de “fazer sempre o mesmo filme”. E, embora grande parte dos diretores sofra injustamente desse estigma, inclusive o próprio Allen durante boa parte da carreira, o que, na maioria das vezes é apenas o que marca o estilo daqueles autores, e, muitos, não só estão se renovando dentro dessa dinâmica, como constantemente desafiando a própria técnica e narrativa, Allen, apesar de um ou outro filme que se destaque nas últimas décadas, parece ter cedido completamente a essa zona de conforto, sobretudo quando seus escândalos pessoais o afastaram da visibilidade e da recepção maior do público e das premiações. Golpe de Sorte em Paris é provavelmente o filme dele mais qualquer coisa nesse sentido, um longa que poderia ter sido dirigido por qualquer diretor desconhecido do cinema mais popular francês, aquele recheado de comédias românticas água com açúcar sem muita personalidade. Soa como um realizador que continua rodando filmes apenas porque não tem mais nada para fazer da vida e deseja aumentar a quantidade de obras em sua filmografia, produzindo às pressas um longa atrás do outro no final de sua carreira.

O descompromisso por parte de Allen é tão grande com qualquer inventividade ou personalidade, que a própria relação com seu diretor de Fotografia, o grande Vittorio Storaro, que deveria ser bastante próxima, soa completamente deslocada, como se cada um tivesse pensando e executando um filme completamente diferente. Storaro então estiliza muitos planos, envolve os personagens em luzes artificiais azuis e alaranjadas, filma certos cenários com alguma opressão, sobretudo quando envolve a protagonista (Lou de Laâge) em seu apartamento, só que isso tudo pouco conversa com o restante do longa, envolto em uma aceitação do mais básico e pouco criativo que o cinema pode oferecer. O pior é perceber que Allen tem completa noção dos clichês que envolvem sua obra, ele simplesmente não faz nada à respeito por preguiça ou cansaço, como se não tivesse vontade alguma de fazer um filme minimamente marcante nesse momento da carreira.

Então, a comédia romântica, com elementos morais típicos do melodrama, em que uma protagonista se envolve amorosamente com um amante (Niels Schneider) que lhe desperta desejos proibidos e que ela mesmo não sabia que sentia, não só é feita meio de qualquer jeito, sem muita química, graça ou tesão, como, principalmente, sente uma necessidade extrema de recorrer a certas caricaturas, como o marido (Melvil Poupaud) manipulador vilanesco com cara de mal e que só falta dar uma risada maligna para se transformar em um desenho animado. É como se Jeanne e suas vontades por si só não fossem suficientes, há essa tolice meio protocolar de criar um maniqueismo que justifique essa comédia romântica, que não só não precisaria de uma justificativa, como, ao fazê-lo, Allen parece criar um outro filme que diminui e mal se conversa com esse gênero inicial, levando tudo para um outro caminho e também quase tão desinteressante (por parte do próprio diretor) quanto. 

Mais uma vez, fica claro que o cineasta reconhece o próprio comodismo, brinca dizendo que a mãe de Jeanne (Valérie Lemercier) lê muita história rocambolesca de detetive, enquanto ele mesmo se joga em uma trama de detetive genérica. Só que não há uma real intenção de ironizar ou fazer algo a respeito. Allen segue a cartilha dessas histórias de investigação quase como um protocolo bobinho, de novo com esse maniqueismo tolo e caricaturas que inclusive jogam a protagonista para segundo plano. Vira um jogo entre a mãe e o marido que não poderia ser mais entediante. 

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