Português (Brasil)

|Crítica| 'Hellboy e o Homem Torto' (2024) - Dir. Brian Taylor

|Crítica| 'Hellboy e o Homem Torto' (2024) - Dir. Brian Taylor

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Hellboy e o Homem Torto' / Imagem Filmes

 

Título Original: Hellboy: The Crooked Man (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Brian Taylor
Elenco: Jack Kesy, Jefferson White, Adeline Rudolph, Martin Bassindale e Leah McNamara.
Duração: 99 min.
Nota: 1,5/5,0

 

A boa ideia de adaptar uma história, sem consequências globais e sendo, em teoria, um folk horror, morre em uso precário da linguagem cinematográfica, uma espécie de fan film com cara de inacabado

Depois dos dois bons filmes de Guillermo Del Toro, que abraçam a fantasia, com um visual cuidadoso e orçamentos inflados, com cara de grande produção, Hellboy teve de esperar 11 anos para retornar às telonas com o já bem mais enxuto, mas ainda com algumas características de mainstream, um desastre completo do irregular Neil Marshall e tendo a Lionsgate por trás. Cinco anos depois e quase sem nenhuma divulgação ou expectativa, o personagem retorna sob um terceiro ator, não mais os conhecidos Ron Perlman e David Harbour, mas o modesto Jack Kesy, que representa bem esse elenco de rostos novos, em um longa que o nome mais popular é o do fraco diretor Brian Taylor (da franquia Adrenalina e do terrível Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança). Em algum sentido, o novo filme, que adapta uma série relativamente recente das HQs e não tem nenhuma grande do mercado envolvida na produção ou distribuição, parte de uma premissa interessante e contrária ao que vem se fazendo no gênero de super-heróis. Transportar o demônio investigador para uma trama em 1959, em um vilarejo mal assombrado, é uma boa ideia para trabalhar esse orçamento mais reduzido e dar um certo frescor à megalomania tão usual nesse tipo de obra. É um filme pequeno, que se vende como folk horror, soa atraente, pelo menos em teoria. Na prática, tudo muda.

Não aceitemos um filme apenas pelo gênero ou pela premissa, o importante para a nossa experiência sempre será a execução dessas ideias. É aí que Hellboy e o Homem Torto perde o caráter de um filme independente e se transforma em uma espécie de sequência direto para locadora (quando estas ainda existiam), ou até pior, um fan film inacabado e realizado por pessoas que amam o personagem, mas nenhum conhecimento apresentam do fazer cinema. Talvez não seja para tanto, só que a pobreza com a qual a narrativa é conduzida é assustadora, e não no bom sentido. A primeira cena já diz muito, um personagem que se declara como “eu sou o arrepio” e enfrenta uma aranha gigante possuída, em uma série de cortes desconexos, sem nenhuma continuidade de movimento ou planejamento de encenação, que apenas sugere a violência, sem mostrá-la, o que não parece ser uma escolha, mas uma daquelas imposições para abaixar a classificação indicativa. A fotografia acinzentada, que tenta dar esse tom mais sombrio e adulto ao longa, o que nem chega a ser um problema por si só, mas vai se declarando cada vez mais como outra tentativa de esconder a computação gráfica, quando o próprio filme mal sustenta essa ideia mais “madura” ou mesmo de um filme de terror, transformando o protagonista em uma espécie de piadista (como o seu trocadilho inicial já sugere), com uma atuação que em nada conversa com todo o restante do elenco, sobretudo aqueles próximos a ele, que estão sempre aterrorizados pelo mal do lugar. Entra em cena, então, Elfie Kolb (Leah McNamara) para dar um novo tom ao longa, criando uma caricatura galhofa que em nada tem da ameaça que o roteiro sugere. É mais uma distração, como quase tudo no filme.

Dessa forma, ainda que tenha uma ou outra solução visual mais interessante, como o corpo da bruxa que se “esvazia”, a falta de qualquer construção, nessa narrativa que vai andando sem solidificar nada, sobretudo para os personagens, que não podiam ser mais desinteressantes, deixando o protagonista muito mais como alguém alheio à trama, que nada faz ou resolve, o que nem seria um problema se acontecesse alguma coisa em seu entorno. Não acontece. Isso porque, não bastasse a falta de composição ou profundidade da imagem, com um plano mais pobre do que o outro, o longa aparenta ser mais um daqueles inacabados ou totalmente modificados na mesa de montagem, apelando para uma série de fades justamente para dar uma impressão de qualquer avanço narrativo que, no fim, praticamente inexiste. E tudo fica ainda pior ao não conseguir se resolver nem enquanto terror genérico de baixo orçamento, já que quando o filme chega ao seu clímax, somos bombardeados por uma série de elementos aleatórios que não se conversam, um drama qualquer coisa de Hellboy com a mãe, personagens secundários que apenas estão lá, exceção feita à agente Song (Adeline Rudolph), que ainda tem alguma razão de ser no longa, piadinhas que surgem do nada sem qualquer efeito, cenas de delírio que evidenciam esse fator muleta da narrativa e uma resolução às pressas. Dá impressão de que havia uma ideia, mas o dinheiro da produção acabou cedo demais e eles tiveram que se virar com o que tinha. Não é capaz nem de irritar o espectador, apenas de não provocar nenhuma sensação sequer.

Compartilhe este conteúdo: