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|Entrevista| Diretor Guto Parente e protagonista Lucas Limeira conversam sobre 'Estranho Caminho'

|Entrevista| Diretor Guto Parente e protagonista Lucas Limeira conversam sobre 'Estranho Caminho'

Premiado no Festival de Tribeca, drama nacional estreia nessa quinta-feira (01) nos cinemas.

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Guto Parente e Lucas Limeira

 

O diretor Guto Parente e o protagonista Lucas Limeira estiveram em São Paulo, durante o MUBI Fest, para a pré-estreia de "Estranho Caminho", longa premiado no último Festival de Tribeca, em Nova York, e que chega aos cinemas brasileiros nessa quinta-feira (01) via Embaúba Filmes.

Confira nosso papo com os dois:

Filmes & Filmes: Guto, 'Estranho Caminho' é, com certeza, seu filme mais pessoal, mas gostaria de saber se também é o mais autoral, o que você mais vê suas técnicas na tela.

Guto Parente: Eu acho que talvez seja no sentido de eu colocar algo muito pessoal em cena, de uma maneira mais explícita. Eu acho que todos os filmes a gente coloca muito da gente, da nossa história, referências.
Eu sempre tive um privilégio muito grande de sempre encontrar grandes parcerias na minha vida, grandes parcerias criativas. E mesmo no caso de um filme em que assino a direção solo, esse filme foi feito por um grupo de pessoas e por uma equipe que está comigo desde sempre.
Acho que nesse filme, de fato, como ele parte de uma questão muito íntima - é um filme que nasce de uma vontade que eu tinha de fazer um filme para refletir a minha relação com o meu pai - acho que daria para a gente considerar o meu filme mais autoral.

F&F: Falando sobre distribuição. 'Estranho Caminho' passou por Tribeca, ganhando diversos prêmios. Eu queria saber o que mudou na distribuição dele para os seus filmes anteriores, e como você vê a distribuição de filmes aqui no Brasil?

Guto: Cara, eu acho que esse lugar que o filme encontrou, de espaço em alguns festivais grandes, de grande legitimação e a premiação,
a estreia do filme ter sido em Tribeca, de ter ganho todos os prêmios, isso deu uma visibilidade muito grande.
Essas coisas vão abrindo portas, mas acho que a maioria das pessoas tem muita oferta do que assistir, do que consumir de audiovisual, seja no cinema, no streaming, televisão. Então, muitas vezes essa legitimação que um festival traz, é algo que sugere para que as pessoas assistam a esse filme específico e isso gera um interesse e uma atenção maior.
A gente está completando um ano de circuito de festival internacional e nacional, ganhando prêmios, o filme sendo bem recebido, tendo experiências muito valiosas de debates e conversas depois das sessões em diversas culturas diferentes. O filme ganha o mundo e se conecta.
Eu acabei de voltar da África do Sul e foi uma sessão muito bonita em que as pessoas se conectaram muito com o filme. Então, assim, é muito forte viver isso, né?
Com relação à distribuição, já existe a parceria com a Embaúba Filmes há algum tempo, é uma parceria muito forte, muito firme, de confiança, de troca, de pensar juntos as estratégias, de pensar juntos os caminhos e de lutar junto contra uma dificuldade que todo o cinema brasileiro enfrenta.
O que veio depois da pandemia dificultou ainda mais o espaço para o cinema brasileiro. A gente vive numa batalha muito grande para conquistar certos espaços, e os filmes brasileiros acabam tendo que competir entre si para encontrar uma janela, um espaço, mas é uma luta que a gente tem que travar e tem que se jogar mesmo e dar o máximo para fazer com que as pessoas vão ao cinema.
E eu acredito que um lançamento comercial de um filme é um momento que o filme tem, mas que os filmes duram no tempo. Ele vive para sempre.

F&F:  Lucas, 'Estranho Caminho' é seu primeiro grande filme após o sucesso de 'Cabeça de Nego', de 2020. Gostaria de saber o que mudou em você como ator de lá para cá?

Lucas Limeira: 'Cabeça de Nego' foi lançado em 2020 mas ele foi rodado em 2018, e eu tinha uma coisa estranha com a câmera. Eu vim do teatro e eu tinha uma impressão que eu não ia me dar bem na frente da câmera, que eu não ia saber como dialogar com a câmera, com essa linguagem. E a câmera é um objeto muito intimidador, né? Registra coisas que vão ficar ali pra sempre.
Eu acho que eu tive muita sorte, porque o Déo (Cardoso , diretor de 'Cabeça de Nego') é uma pessoa incrível e eu também trabalhei com uma equipe incrível, conheci pessoas que trabalham comigo até hoje.
Tem algumas cenas que eu ainda assisto e fico: "Meu Deus, olha, eu não sabia o que fazer com os braços nessa hora", e fica visível na tela, né? Em 'Estranho Caminho' também tem um pouco desse sentimento, mas bem menos.

Guto Parente: Eu tive contato com o Lucas como ator na montagem de 'Cabeça de Nego', que eu fiz a montagem, e foi nesse processo, de estar vendo um ator no material bruto e vendo o take a take, que fiquei encantado com ele. E fiquei com isso na cabeça, de um dia ainda querer trabalhar com ele.
Então tem isso também que conecta os dois filmes.

LL:  Mas, também uma coisa que foi muito importante para eu me sentir muito à vontade, que foram os diálogos com o Guto.
Por ser uma história muito pessoal e íntima, eu acho que isso me deu maior segurança. Um processo da gente criando intimidade. A gente, ali em janeiro de 2021 ensaiando.

F&F: Lucas, você falou que veio do teatro, você saiu de uma companhia de teatro lá de Fortaleza, né? Eu queria perguntar isso, se você sentiu muita diferença de sair do teatro para o cinema, e se hoje você gosta mais da tela ou do palco?

LL: Não me pergunte isso, por favor. Risos.
Eu amo muito o teatro. Mas hoje em dia, não sei, eu me sinto muito feliz num set, muito, muito feliz mesmo.
Um dia desse foi um coach lá na escola em que dou aula, e ele tava falando umas coisas super motivacionais, que não me acessaram tanto, assim, né? Mas teve um momento em que ele perguntou: "Em que cenário você se imagina muito feliz? Qual o cenário ideal pra você?". E na hora eu pensei nos sets de gravações em que passei.

F&F: Bom, pra finalizar. Guto, o filme mistura diversos gêneros: Comédia, suspense, terror, experimentalismo. Eu queria saber quais filmes te inspiraram para a realização de 'Estranho Caminho'?

Guto: Nossa, são muitas...Risos. Às vezes são referências muito distantes, de atmosfera.
Eu tinha uma lista de filmes para mostrar para a equipe antes do início das filmagens, que agora não estou lembrando, mas que com certeza tinha David Lynch, que para mim é uma referência muito forte, tinha filme do Buñuel, que também acho muito importante para minha formação.
Sobre essa coisa do gênero, eu tenho uma formação de cinefilia, e acho que o que me marcou mais forte foi essa primeira cinefilia, a cinefilia de locadora.
Eu morava do lado de uma locadora e inclusive um dos motivos pelos quais eu me senti muito impelido e movido a fazer um filme para o meu pai, é porque ele que me ensinou a amar o cinema. Tinha essa questão da incomunicabilidade, que o filme trata, e eu acho que é uma coisa que fez parte da minha vida. Não é sobre desamor e nem é sobre ausência, é sobre a dificuldade de se expressar, o grande terror do filme é a incomunicabilidade. Mas eu acho que a gente tinha uma linguagem comum que era o cinema, de alugar fitas VHS e essa coisa de ir locadora e escolher um filme. Era algo que eu tinha muito com o meu pai.

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