|Crítica| 'O Exorcismo' (2024) - Dir. Joshua John Mller
Crítica por Victor Russo.
'O Exorcismo' / Imagem Filmes
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Com cara de filme inacabado, Joshua John Miller nos afasta do protagonista e, por consequência, do terror, e pouco desenvolve sua interessante premissa
O Exorcismo surge com maior destaque para Russell Crowe, ator que antes não fazia filmes de terror e, agora, em pouco tempo, tem dois longas ligados ao tema exorcismo. Só que, diferente do que se esperava, a obra de Joshua John Miller foge da abordagem narrativa tradicional e tem no fazer cinematográfico a premissa para os elementos do gênero. Desde a sequência de abertura, em que assistimos a um ator executando a cena como treinamento, antes de vermos aquela casa vazada e percebemos que se trata de um set de filmagem, há uma sugestão desse local de se fazer filmes como a grande ameaça. O cinema como maldição. Assim, Tony (Crowe) não é o padre, personagem sempre central em filmes de exorcismo, mas trata-se de um ator (ainda que tenha um passado traumático na igreja católica) em um remake de O Exorcista (por sorte o longa pouco recorre às homenagens e fan services) que ao aprender a representar essa realidade se transforma em alguém capaz de vencer esse mal, não pelo conhecimento da profissão, e, sim, por saber atuar pronunciando aquelas falas com verdade.
Entretanto, Miller tem uma dificuldade muito grande de estabelecer um ponto de vista para a narrativa que desenvolva essa premissa e o horror. Aos poucos, o cinema vai perdendo a importância e, enquanto o protagonista dá indícios de estar possuído, o longa sai de perto dele e passa a acompanhar sua filha Lee (Ryan Simpkins), com o objetivo claro de retratar o ponto de vista daquela que supostamente estaria em perigo. Só que, ao mudar o foco, há uma impossibilidade gigante da imagem e da montagem em criar realmente esse medo, em grande medida, pela não compreensão desse protagonista, suas questões presentes e todo o passado que o aterroriza. O cineasta guarda basicamente tudo para revelações ao final, expostas sem muita cerimônia, completando flashbacks sugeridos e esclarecendo qualquer dúvida, só que, até lá, não há qualquer impulso que engaje o espectador com o terror. Parece que há um certo protocolo a ser seguido em tais cenas, um tanto tedioso, em que rapidamente fica percebido que nada acontecerá com os personagens e até escolhas mais diretas do horror, como o jumpscare, são jogadas sem muita habilidade, em uma certa desconexão entre som e imagem, que nem o susto mais fácil é atingido.
Fica a impressão de que Miller tem habilidade o suficiente para construir certas trucagens e ideias interessantes, sobretudo em como esse cenário cinematográfico é sugerido e todos os labirintos espaciais do longa remetem à uma construção de set, inclusive em como a câmera se movimenta a fim de balançar esses locais a cada pisada do personagem, como se o protagonista adquirisse uma forma sobrehumana quando possuído e suas pisadas ganhassem esse status ameaçador. Só que não há qualquer articulação entre esses elementos e o terror do longa, é como se o cineasta tivesse uma consciência de construção de cena, mas não para o gênero em questão, e, menos ainda, a capacidade de articular uma narrativa. As cenas se sucedem sem muita conexão, as lacunas vão sendo deixadas mais por uma incompletude do roteiro do que com um propósito real e as cenas presentes no longa são tão distanciadas que se cria uma impossibilidade de envolvimento no espectador. Fica uma forte impressão de filme inacabado, com cenas retiradas na montagem ou nem mesmo filmadas (difícil saber e nem convém aqui ficar adivinhando nessa crítica). Miller é um diretor com algum conhecimento de linguagem, só não parece pronto para fazer um longa metragem, seja no gênero, com esse orçamento ou com o roteiro que não sabe lidar com a premissa. A falta de uma aproximação do protagonista faz o medo se diluir a ponto de nem sequer existir.