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|Crítica| 'Deadpool & Wolverine' (2024) - Dir. Shawn Levy

|Crítica| 'Deadpool & Wolverine' (2024) - Dir. Shawn Levy

Crítica por Victor Russo.

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'Deadpool & Wolverine' / Walt Disney Studios

 

Título Original: Deadpool & Wolverine (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Shawn Levy
Elenco: Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin, Matthew Macfadyen, Dafne Keen e Morena Baccarin.
Duração: 128 min.
Nota: 1,0/5,0
 

Deadpool & Wolverine tem nas autorreferências, aparições e piadas sexuais adolescentes muito mais um escudo para possíveis críticas do que a pretensão de criar algo

A substituição de David Leitch por Shawn Levy faz muito sentido para a transição de Deadpool da antiga Fox para a Disney/Marvel. Se a dinâmica do personagem, que em boa parte vem das HQs, com a quebra constante da quarta parede, piadas de cunho sexual, autorreferência, violência, entre outros elementos, pouco se modifica em relação aos dois primeiros filmes, a forma como essa combinação que dá cara e corpo ao protagonista e sua sátira à indústria cinematográfica e às redes sociais não poderia ser mais a cara de Levy. Dizer que Leitch não é um diretor de estúdio seria ingenuidade, já que logo após o primeiro John Wick, o diretor tratou de se envolver com franquias ou com a pretensão de criar universos, sendo Atômica a exceção entre os Deadpool, Hobbs & Shaw, Trem-Bala e O Dublê. Só que, dentro dessa combinação de humor e ação típica do blockbuster contemporâneo, o cineasta tem um mínimo de personalidade, seja ao filmar as sequências de ação (de onde ele surgiu para o cinema), ou mesmo em lidar com a autoconsciência de em que momento cada filme está se inserindo dentro do cinema de estúdio (o que o primeiro Deadpool faz bem melhor que o segundo). Já Levy é aquele diretor que todo produtor ama trabalhar, inclusive boa parte da carreira do cineasta foi nesta função, sem personalidade, com filmes feitos sob encomenda e quase sempre ultradependente da pós-produção para resolver a falta de uma encenação. Parece ser um diretor que não vê nenhum problema em entregar a sua criação para um produtor modificar ao seu bel-prazer com os artistas de efeitos visuais.

Assim, se o personagem carrega as características das obras anteriores, Deadpool & Wolverine surge como um filme menos interessado em existir e mais preocupado no que vão dizer sobre ele nas redes sociais. A sátira seguindo o modelo metralhadora de piadas, em que nada é levado a sério (apesar do filme constantemente apelar para o trauma de Logan), que tem consciência de ser um filme agora da Disney e tudo o que isso significa, não constrói exatamente uma narrativa a ser seguida, muito menos uma encenação bem definida (que até tem bons momentos isolados em duas ou três cenas de ação). Ao invés de elementos fundadores para seguirmos esses personagens com objetivos finais definidos, o que vemos é, sobretudo nas piadas com a própria Disney e o MCU e as infinitas aparições, uma espécie de escudo para possíveis críticas. O filme chega a fazer isso literalmente mais de uma vez, nos momentos de exposição para aqueles fãs que não assistem às séries, em que tudo para e longas explicações começam, enquanto o personagem vira para o público e fala algo como “lá vem a exposição”. É como se o filme reconhecendo todos os seus problemas e inexistência enquanto narrativa ele deixasse de ter esses problemas. É a autoconsciência não como uma sátira afiada aos estúdios, como o personagem sugere estar fazendo, e, sim, como uma maneira de parecer descolado e espertinho e se defender de quem não compra esse recurso frágil com tanta facilidade.

Assim, quase toda a mise en scéne se volta não para ação ou mesmo para interações, mas, sim, para quebras constantes em textos ou músicas, criando piadas não só óbvias, como escancarando a falta de referências cinematográficas do cineasta e dos demais roteiristas. Então, menos há da valorização de Ryan Reynolds e Hugh Jackman como essa dupla principal, já que os personagens pouco importam em meio a essa metralhadora autoconsciente e adolescente (um projeto bem sedimentado há tempos pela Disney de infantilizar adultos para rirem de qualquer piadinha tosca com cunho sexual, como se houvesse algo de transgressivo nisso, o que só escancara a vergonha dessas pessoas com algo que deveria ser natural, ou de se bestificar ao entender alguma referência nerd), e mais há uma preocupação bastante cínica e trapaceira de soar relevante para o fã. Como criticar um filme com tantas aparições inesperadas (inesperadas? Sério? Mas a Marvel não está se utilizando desse fan service rasteiro e óbvio há pelo menos cinco anos?) e piadas com o próprio estúdio responsável pelo filme? Mais uma vez, o filme diminui os personagens frente ao levantamento desse escudo para possíveis críticas nas redes sociais. É o cinema não feito mais para um espectador, mas para seguidores fanáticos sem rostos (quase sempre usando perfis fakes ou com imagens de personagens da Marvel) tweetarem milhares de vezes em favor do filme.

E é justamente nessa suposta autoconsciência satírica à Disney que o longa se mostra mais canalha. “Não pode falar cocaína que o Feige não deixa”, “Estamos destruindo o legado do Logan”, o logo da Fox afundado no limbo, “O MCU não tem nada bom desde Ultimato” (todas essas falas não são literalmente assim, mas algo próximo disso) são apenas algumas entre tantas piadas com a empresa que financia e que lucrará rios de dinheiro com o filme. Essa ideia de que tirar sarro de quem manda na produção é uma virtude arriscada e provocativa, quando, na verdade, não poderia ser mais calculada e inofensiva. No fim, Deadpool & Wolverine é isso, um produto que pouco tem de cinema, um amontoado de esquetes que joga na defensiva para enganar fã ingênuo, que se usa de aparições sem dar peso a elas, enquanto replica o anterior sob uma outra dinâmica, ainda mais restritiva e controlada por algoritmos e produtores. Se os filmes da Marvel quase todos realizados em pós-produção vem há tempos matando a imagem cinematográfica, cada vez mais sem profundidade, textura, cor e composição de forma geral, o longa de Levy vem para dobrar a aposta, cuspindo não só na imagem, mas na narrativa como um todo. O que importa é tacar referência, o verdadeiro trabalho é feito pelos fãs infantilizados nas redes sociais.

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