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|Crítica| 'Jurassic World Domínio' (2022) - Dir. Colin Trevorrow

|Crítica| 'Jurassic World Domínio' (2022) - Dir. Colin Trevorrow

Crítica por Victor Russo.

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'Jurassic World Domínio' / Universal Pictures
 
 
Título Original: Jurassic World Dominion (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Colin Trevorrow
Elenco : Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum, Chris Pratt, Bryce Dallas Howard e Mamoudou Athie.
Duração: 147 min.
Nota: 2,0/5,0

 

“Jurassic World: Domínio” atira para todos os lados, mas o alvo principal segue sendo a nostalgia barata

Criticar franquias ou a forma que Hollywood tem se debruçado sobre a nostalgia e o fan service é falar o óbvio, pelo menos para qualquer pessoa que pense o cinema com um olhar um pouco mais crítico. Ao mesmo tempo, fica claro como essa fórmula vende, visto os sucessos de bilheterias do Universo Marvel, das franquia Jurassic World, Transformers e Animais Fantásticos, universo de monstros da Universal e dos recentes Sonic e nova trilogia Halloween.

Porém, se debruçar no cinema blockbuster hollywoodiano apenas por meio dessa dualidade, analisando uma fórmula única em que o dinheiro sempre prevalece e por isso a nostalgia barata e as franquias intermináveis vão continuar dominando as salas de cinema é o mesmo que fechar os olhos para os ótimos “Mad Max: Estrada da Fúria”, 007, Missão Impossível, John Wick, Um Lugar Silencioso, “Top Gun Maverick”, “The Batman”, trilogia Planeta dos Macacos, entre outros, que tivemos nos últimos anos nesse cinema de grande orçamento. 

Então, apesar do desejo dos estúdios por dinheiro fácil, justificando o nome de Hollywood como “indústria cinematográfica” mais do que com uma preocupação artística, a forma que franquias vão trabalhar a linguagem cinematográfica e desenvolver seus universos está mais ligado ao que so diretores (principal), roteiristas e produtores vão propor para cada uma dessas obras. O problema então é menos a existência de sequências e franquias e mais a preguiça de grande parte da indústria em jogar no seguro e o medo de arriscar. Isso fica claro em como um excelente “Os Últimos Jedi” é sucedido por um vergonhoso de apelo nostálgico “Ascensão Skywalker”.

Fica então a cargo de Colin Trevorrow (“Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros”) mais uma vez dar sequência e fechar a segunda trilogia de uma franquia que foi revivida em 2015, sob uma lógica de um reboot sem ser reboot que praticamente copia a estrutura e apela para tudo que funcionou em 1993, mas dentro de uma perspectiva do blockbuster atual, seja na inserção de piadinhas e referências, ou na necessidade de resolver tudo com a computação gráfica.

Dois filmes depois, a nova trilogia continua muito mais preocupada com o sucesso de bilheteria do que com uma vontade de propor algo de novo, ainda que esse filme talvez seja o que busque fazer algo de diferente, sobretudo em como renega por alguns momentos a base de Jurassic Park para se atirar em uma ação mais descompromissada, o que fica claro na sequência de Malta e parece mais um Missão Impossível genérico com dinossauros do que uma obra da franquia a qual pertence.

Porém, mesmo essas poucas tentativas de fazer algo diferente soam mais como falta de ideias novas e aposta em atingir diferentes públicos (desde o fã da franquia, até um público mais interessado no cinema de ação) do que uma busca por reinventar a franquia ou evoluí-la além do que já foi feito anteriormente. 

Assim, o filme vai explorar diversas linhas narrativas (sobretudo duas, o novo e o velho que vão se cruzar) e diversas problemáticas (desde os dinossauros, até clonagem humana, ética da ciência, paternidade, coexistência entre espécies, corporações criando problemas para lucrar com as soluções etc), tudo isso sem qualquer profundidade e mais como conveniência para fazer o filme parecer mais complexo e relevante do que realmente é.

Mas, na prática, o interesse mesmo de “Jurassic World: Domínio” está em ser mais um revival, termo que o recente “Pânico” tirou sarro. Ou seja, unir personagens novos e suas situações a personagens clássicos da franquia, criando interações entre eles e interrompendo constantemente a narrativa, tanto para fazer referência a situações e falas dos filmes antigos, quanto para confrontar o clássico ao novo, por exemplo, com o personagem do Chris Pratt e o do Sam Neill agindo de forma parecida e tentando liderar o grupo, mostrando como os personagens cumprem a mesma função em suas respectivas trilogias.

Una essa nostalgia à banalização dos dinossauros, que aparecem aos montes apenas para terem os seus nomes citados e criarem uma ameaça momentânea, e temos um filme que segue à risca a proposta preguiçosa do blockbuster “nostálgico e divertido” contemporâneo, fazendo o grande público tratar cada vez mais o cinema como uma experiência vazia e momentânea, e ignorando exigir as possibilidades muito mais interessantes que outras franquias e blockbusters propuseram nos últimos anos.

Resta a “Jurassic World: Domínio” apenas um bom trabalho de som para a diferenciação entre os dinossauros e um CGI bem acabado em meio a um mar de preguiça e “generiquisse”. É um filme que nem sequer entende o original e o brilho que partia de uma fascinação por aquelas criaturas. Aqui os dinossauros e os personagens são apenas dispositivos para um escapismo vazio.

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