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|Crítica| 'O Peso do Talento' (2022) - Dir. Tom Gormican

|Crítica| 'O Peso do Talento' (2022) - Dir. Tom Gormican

Crítica por Victor Russo.

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'O Peso do Talento' / Paris Filmes
 
 
Título Original: The Unbearable Weight of Massive Talent (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Tom Gormican
Elenco : Nicolas Cage, Pedro Pascal, Tiffany Haddish, Neil Patrick Harris, e Lily Mo Sheen.
Duração: 107 min.
Nota: 3,0/5,0
 

 “O Peso do Talento” constrói uma divertida espiral metalinguística em cima da persona Nicolas Cage, mas não consegue ir muito além do seguro

A ideia de trazer um ator interpretando a ele mesmo ou construir uma relação de divindade sobre esse ator não é uma novidade e nem uma exclusividade de Hollywood, até mesmo Ricardo Darín já viveu a si mesmo e foi idolatrado pelos demais personagens no fraquíssimo “Delirium”. O que há de novo em “O Peso do Talento” não está na premissa, mas, sim, em sua figura central: Nicolas Cage.

Ator promissor no começo de carreira, Cage não demorou muito para vencer um Oscar e virar um dos queridinhos de Hollywood. Mas, como em um clássico roteiro de ascensão e queda dentro da indústria, o ator logo se perdeu em sua própria fama, cometeu uma série de excessos e passou a dever uma quantia milionária depois de ganhar uma fortuna. Então, veio a fase “faz tudo”, em que Cage passou mais de uma década aceitando basicamente qualquer projeto por fins financeiros, ignorando a qualidade questionável da maioria desses filmes. 

Depois de virar uma paródia de si mesmo e todo mundo esquecer o quão bom ator ele é, Cage voltou a mostrar o seu talento em filmes mais independentes, daqueles que rodam festivais, mas dificilmente chegam ao grande público. Obras como “Mandy - Sede de Vingança” e “Pig” nos lembraram que o ator é muito mais do que aquele fanfarrão exagerado dos filmes de baixo orçamento ou blockbusters de ação da década de 1990. No projeto certo e com a cabeça no lugar, ele é um grande ator.

E é justamente sobre a carreira e a figura construída de Cage que o filme de Tom Gormican vai se debruçar, mas não como em uma cinebiografia, e, sim, em um besteirol autoconsciente e metalinguístico, a fim de idolatrar e tirar sarro do ator na mesma medida, ao mesmo tempo em que satiriza Hollywood como indústria na figura de seus agentes e fórmula pronta de sucesso que os estúdios replicam aos montes.

É então que o protagonista deixa de ser apenas Cage vivendo ele mesmo e se transforma na persona Nicolas Cage. Nem a pessoa real, nem uma atuação, mas, sim, uma pessoa real que não consegue se dissociar da persona que construiu em suas interpretações tanto nas telas quanto fora delas. 

E é justamente ao explorar essa persona que o filme extrai seus melhores momentos, sobretudo na atuação de Cage, que não busca um realismo, mas também não se entrega para o exagero simplório que construiu durante a carreira. A interpretação que parece interpretação soa como um personagem que não sabe mais a diferença entre ficção e realidade. Que leva os seus maneirismos do cinema para vida real, assim como quer misturar a realidade às obras cinematográficas que tanto ama.

Mas se tudo que envolve essa crise de identidade de Cage e sua carreira funciona muito bem, principalmente com uma série de piadas referenciais, o mesmo não pode ser dito quanto a trama mais absurda proposta pelo roteiro. Não pelo absurdo em si, isso até se encaixa bem nessa proposta da sátira meio besteirol. A questão é que a autoconsciência de “O Peso do Talento” é tão grande, que o filme acaba se tornando em grande medida aquilo que tenta satirizar.

Ao tirar sarro da fórmula hollywoodiana, o longa acaba caindo na própria armadilha quando executa o mesmo filme que está zoando, mas sem propor nada de muito novo além do clichê do filme dentro do filme. Ou seja, ao mesmo tempo que “O Peso do Talento” brinca com obras que abusam das referências e que tentam atingir diversos públicos por meio de piadas, ação e explosões, o próprio filme depende desses elementos para resolver sua premissa, em uma metalinguagem que parece espertinha, mas no final é só uma muleta. Como se por o filme ter consciência daquilo, a gente deveria rir e fingir que não há qualquer problema.

Então, “O Peso do Talento” acaba por ser uma divertida experiência, sobretudo para os fãs do Nicolas Cage, que leva a metalinguagem a uma espiral infinita, mas em muitos momentos é bem menos esperto do que pensa, sobretudo em como usa a linguagem cinematográfica de forma bem genérica.

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